
Confúcio, pensador e filósofo chinês.
Já se disse que países não tem amigos, tem interesses. Geralmente comerciais, econômicos, militares ou estratégicos. Mas o dirigente de um país não é amigo nem inimigo do seu colega enquanto ambos exercem seus cargos. No entanto, há uma simbologia quando um visita o outro e eles se abraçam, dão as mãos, trocam sorrisos, vão a jantares, banquetes, inaugurações juntos, mas, enquanto chefes de estado, não são amigos. As imagens servem para passar a população que há amizade entre eles e colabora para que as pessoas vejam os estrangeiros com boa vontade e simpatia. É comum que assinem tratados comerciais ou de fronteiras, ou de cooperação de toda ordem em cerimônias com alto grau de sofisticação, pompa e circunstância, protocolos e muita, mas muita imagem mesmo. Para alguns tudo aquilo foi produzido durante a estada do chefe de estado visitante pelos dois dirigentes. Guardadas as canetas, dá–se continuidade a um trabalho que se iniciou meses ou anos antes. Ou seja tudo aquilo foi preparado com grande antecedência pela burocracia, debatido exaustivamente entre as partes, aprontado com os mínimos detalhes apenas para que os dois chefes assinem diante das câmeras e na frente das bandeiras dos dois países.
A maior parte desse trabalho é realizado pelos diplomatas dos mais variados matizes e nível hierárquico. Na Antiguidade ninguém cuidou melhor de aparelhar o Estado com um corpo diplomático competente do que a China. Inspirado no ideário de Confúcio, os chineses escolhiam os melhores para a carreira diplomática. Sabiam bem que as melhores vitórias são aquelas que não são disputadas no campo de batalha com mortos e despesas imensas. Podem ser vencidas no campo diplomático, sem guerras, genocídios, despesas e destruição. Por isso tratavam o corpo diplomático com o maior cuidado e os mestres chineses ensinavam que em uma negociação não se pode perder “a face”. Ou seja, o que foi dito, acertado, tratado, combinado ou costurado não pode voltar atrás, sob pena de desmoralizar uma instituição de tanto valor para o Estado. As vezes, quando todas as iniciativas fracassavam era preciso deixar o diálogo e partir para a guerra. Uma vez decidido, não se poderia voltar atrás. Esse axioma foi seguido ao longo do tempo e quando foi substituído provocou mais dano do que benefício, como a política do Big Stick inaugurada pelo primeiro Roosevelt, no início do século passado.
Ministros do exterior são tão importantes que no Brasil são chamados de chanceler. Suas decisões ou declarações tem imediata repercussão internacional e, muitas vezes, valem tanto quanto a do chefe de estado. Assim se um governo decide chamar seu embaixador em algum país de volta para consultas, a leitura é que alguma coisa grave ocorreu no relacionamento entre eles. Equivale a convocar o embaixador estrangeiro para dar explicações no ministério do exterior. Outro sinal que as coisas não vão bem. Por isso, os chefes de estado confiam no conhecimento técnico dos diplomatas, pois uma açodamento nesse campo pode resultar em prejuízos políticos e econômicos. Raramente um governante faz declarações de improviso sobre fatos que envolvam outros países como conflitos internos ou externos. A prudência chinesa manda ler e não improvisar. Falar em público e diante de jornalistas o que vem na cabeça é altamente condenado desde a época de Huang-Ti. E muitos a perderam por não controlar a língua.
Por Heródoto Barbeiro
Perfil de Heródoto Barbeiro
Heródoto Barbeiro é jornalista, âncora do Jornal da Record News e do R7, diariamente as 21h. Ex-apresentador do Roda Vida da TV Cultura e do Jornal da CBN. Autor de vários livros na área de treinamento, história, jornalismo e budismo.