Uma das funções mais antigas no jornalismo de televisão está com os dias contados: o “rádio-escuta”. Ele já ajudou muito no passado, principalmente em reportagens policiais, mas está quase no fim da carreira.
Como o próprio nome diz, este profissional é quem ficava escutando o rádio da polícia e bombeiros para saber das ocorrências que poderiam virar uma boa “pauta quente”. Muitas edições foram salvas por este profissional que, de repente, saia gritando pela redação que um prédio estava pegando fogo, que acontecia um assalto, troca de tiros ou que havia um acidente gravíssimo na rodovia. Parece um mensageiro de más notícias? Pode ser, mas para muitos editores-chefes, o rádio-escuta era considerado um salvador da pátria, um santo milagreiro, um mensageiro direto da “Nossa Senhora do Factual”.
Quem é esse cara?
O rádio-escuta é um profissional antenado, que sabe das linguagens em código do rádio da polícia: QSL = entendido, TKS = obrigado, QTH = local da ocorrência, QRA = nome da vítima ou suspeito, e assim vai.
Sabe distinguir as áreas de atuação das equipes policiais e de resgate, a jurisdição de cada companhia, mas NUNCA pressionava o PTT – aquele botão na lateral dos rádios que se aperta para falar – na frequência em que monitora. Se fizer isso pode atrapalhar a comunicação entre policiais e isso é considerado crime.
Por que a função está acabando?
Ouvir o rádio da polícia é ilegal, mesmo que seja com as melhores intenções (jornalísticas), ou seja, fazer um furo de reportagem. No passado, era comum cada redação de TV ter um aparelho de rádio PX para ficar “corujando” (monitorando, ouvindo) as frequências das forças de segurança local, mas pessoas mal intencionadas também descobriram que poderiam fazer isso. E isso atrapalhava e muito os flagrantes da polícia.
Quem substitui o rádio-escuta?
Na era contemporânea, o rádio-escuta foi se transformando e se adequando as modernidades da nossa época. Hoje, esse precursor da notícia tem outras fontes para monitorar como rádios e TVs 24h de notícias e sites. A nomenclatura passou de “rádio-escuta” para “apurador de notícias”. A “Central de Escuta”, a sala desses profissionais, passou a se chamar “Agência de Notícias” e no fundo, fazem a mesma coisa que no passado: buscam informações para abastecer a produção nas redações.
Quem é esse tal de apurador?
Normalmente, os apuradores são pessoas com muitas fontes, ou seja, tem muitos contatos que podem fornecer informações para boas pautas. Pode ser desde a faxineira de uma delegacia, atendente de um hospital, cozinheira de uma creche ou até mesmo o secretário de segurança do estado. Além de monitorar rádios, TVs, jornais locais e sites, o apurador está frequentemente telefonando para suas fontes pessoais ou oficiais (delegacias, hospitais, bombeiros etc) para saber das novidades noticiáveis. Tudo que virar matéria é colocado em um relatório e distribuído na hora para a redação. O produtor, pauteiro ou chefe de reportagem que se interessar passa a buscar mais informações e a mobilizar equipes de repórteres para cobrir o fato, ou mesmo, entrar ao vivo.
Oportunidade na apuração
Esse cargo, geralmente, existe em redações de médio e grande porte. Muitas vezes, essa função é a porta de entrada para muitos estagiários. Se o aspirante a jornalista se der bem, pode abraçar o cargo efetivo ou mesmo passar para a pauta, produção, reportagem e por aí vai.
Por Thiago Moraes.
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Perfil de Thiago Moraes
Repórter e apresentador de telejornais, Thiago Moraes (31) trabalha com jornalismo televisivo desde 1996, quando iniciou na área técnica (atrás das câmeras). Formou-se em jornalismo pelo UNIFAE, em 2005, na cidade natal (São João da Boa Vista-SP). Pós-graduado em Linguagens Midiáticas e pós-graduando em Jornalismo Econômico pela PUC-SP. Thiago Moraes é autor de mais de 3 mil reportagens televisivas e também escreve para o blog TELE BLOG NEWS – Bastidores do jornalismo em TV.