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Estudar para que?

Com a queda da obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão, vários estudantes de comunicação perguntam se vale a pena se graduar. Foto: Pixabay
Com a queda da obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão, vários estudantes de comunicação perguntam se vale a pena se graduar. Foto: Pixabay

Para quem passa quatro anos de sua vida frequentando os bancos da faculdade de comunicação social a queda da obrigatoriedade do diploma de jornalismo é um absurdo. Dizer que todo mundo é jornalista, pois sabem escrever e expressar suas opiniões é uma grande mentira.

O jornalista não é apenas um rostinho bonito na TV ou um sujeito revoltado com o mundo que vive descarregando suas frustrações através de seus textos. Sim, existem exceções, mas a regra geral é que o profissional da comunicação se formou para ter uma visão crítica do mundo, apurar as informações que recebe e traduzi-las ao grande público ressaltando as implicações de cada uma no dia a dia dos seus leitores, ouvintes ou telespectadores.

Ser um formador de opinião é uma grande responsabilidade. E é na faculdade que se reflete sobre esse poder que é colocado nas mãos dos jornalistas. A vida acadêmica de um estudante de jornalismo não se resume a matérias práticas, pelo contrário, essas estão em um número muito reduzido no cronograma de estudos. A teoria é que irá construir o caráter do futuro jornalista. Por isso se estuda ética, filosofia, geopolítica, semiótica, entre outras matérias.

Imagine se a faculdade de jornalismo se reduzisse apenas a saber escrever e falar diante de uma câmera. Será que o jornalismo seria melhor?

Mas vamos aos fatos: No ano de 2009 os ministros do Supremo Tribunal Federal derrubaram a obrigatoriedade do diploma de curso superior para a prática do jornalismo. De acordo com o presidente do Supremo Tribunal Federal na época, Gilmar Mendes, a exigência viola os princípios da liberdade de pensamento e qualquer tentativa de revogar essa sentença seria inconstitucional.

Segundo a advogada e professora de ética em jornalismo, Adriana Paone, “no atual contexto social não há prejuízo, posto que o mercado de trabalho para o profissional de jornalismo tem preferência à qualificação. Quanto aos leitores o prejuízo ocorre em especial através da mídia digital, fonte de erros de gramática e de raciocínio para a construção de frases”.

Paone não acredita que a decisão seja revogada, mas ressalta que o principal motivo para que isso ocorra está na preservação do mercado de trabalho.

Já para a coordenadora do Curso de Jornalismo das Faculdades Integradas Alcântara Machado (FIAM FAAM), Professora Márcia Avanza, “a falta de diploma permite que pessoas sem qualidade e ética atuem no mercado. Isso é danoso para estudantes e jornalistas, porque a profissão se torna precária. Ao mesmo tempo, abre a possibilidade de matérias manipuladas ou sem apuração necessária, que atinge diretamente ao leitor. Evidentemente, a falta de qualidade da imprensa também afeta todo mundo”.

Apesar de defender a volta do diploma, Avanza não é tão radical e diz que podem existir exceções. “Eu sempre digo que o problema não é o diploma, mas a formação. O aluno de jornalismo se prepara para exercer aquela profissão, se qualifica”.

“A regulamentação da profissão beneficia todas as partes, qualifica a produção e evita desvios e manipulação”, conclui.

Por Emílio Portugal Coutinho

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Emílio Coutinho
Emílio Coutinho
O jornalista, professor universitário e escritor Emílio Coutinho criou a Casa dos Focas em 2012 com o objetivo de oferecer um espaço para o ensino, a reflexão, o debate e divulgação de temas ligados ao jornalismo e à comunicação em geral.
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