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Melhor para se morar

Foto por Heitor CJ licenciada através Wikimedia Commons sob Creative Commons Atribuição 2.0 Genérica.
Foto por Heitor CJ licenciada através Wikimedia Commons sob Creative Commons Atribuição 2.0 Genérica.

A melhor cidade do mundo para se morar é aquela que a gente sai de casa de manhã e sabe que vai voltar vivo à noite. Pode parecer o óbvio, mas não é. Alessandro saiu de casa, foi trabalhar em um restaurante e no meio da tarde foi buscar a família. Era uma sexta-feira e iam passar o final de semana fora da cidade. Um grupo fugia da polícia e precisava de um carro. Alessandro estava no local errado, na hora errada. Rendido pelos quatro fugitivos, não teve dúvidas, abriu a porta para entregar o carro. Houve um acidente de trabalho. O carro era automático e deu um pulo para frente quando o motorista ameaçou deixá-lo. O fugitivo, armado de um fuzil, de grande potência, entendeu isso como uma tentativa de fuga. Não era. Na dúvida, disparou. A bala transpassou Alessandro, o banco, e saiu pela porta do passageiro. O tiroteio continuou com um policial ferido, um bandido morto e outros três conseguiram outro carro e fugiram. Uma cidade com uma cena dessa pode figurar como uma das melhores para se morar no mundo?

São Paulo é a cidade de número 117 em um ranking das melhores cidades do mundo para se morar. Perde para o Rio e Brasília, ainda que sua taxa de mortes por violência seja ligeiramente inferior a 10 por cem mil, um índice considerado bom pela ONU. Portanto ter a violência sob controle é um pré-requisito para se considerar uma cidade boa para se viver. Não é a quantidade de shoppings, de restaurantes da moda, de praias badaladas, paisagens deslumbrantes, povo simpático, cultura exótica e outros atributos. Sem segurança tudo isso não tem sentido. As pessoas vivem com medo, como podem se sentir felizes? Segurança é uma sensação. Sair com carro blindado, segurar a bolsa no metrô, dar voltas no quarteirão antes de entrar na garagem, verificar se não está sendo seguido na rua, trancar portas e janelas, ativar todos os alarmes e ter certeza que o portão elétrico está funcionando. Isto tudo está no cotidiano de quem vive em uma cidade que não está no ranking das 100 melhores do mundo para se viver.

As primeiras 20 cidades são seguras. Tem amplos centros culturais, muitos jardins públicos, passeios, museus e prédios históricos. Algumas até têm belas paisagens. Um rio limpo, um sistema de coleta seletiva de lixo, transporte público que sai e chega na hora combinada. Os cidadãos participam dos conselhos comunitários dos bairros, fiscalizam e influenciam o governo da cidade. Não faltam locais adequados para baladas da moçada. Não tem pancadão, nem carnaval de drogas e defecação pública. Isto só acontece para quem está fora do ranking das 100 melhores. São comunidades pacatas, que mesclam o que há de mais avançado com a tradição. Convive o presente com o passado. Não destrói “prédios velhos” para dar lugar ao “progresso”. Seus habitantes são extremamente cautelosos na escolha do governante e não toleram uma assembleia de vereadores que custa quase meio bilhão de reais por ano. Que graça deve ter em se morar em uma das cinco melhores do mundo? Deve ser uma monotonia. Todos os que saem de casa de manhã voltam à noite. Vivos.

Por Heródoto Barbeiro

Perfil de Heródoto Barbeiro

Heródoto Barbeiro

Heródoto Barbeiro é jornalista, âncora do Jornal da Record News e do R7, diariamente as 21h. Ex-apresentador do Roda Vida da TV Cultura e do Jornal da CBN. Autor de vários livros na área de treinamento, história, jornalismo e budismo.

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