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Telejornalismo: como fazer um off

Off telejornalismo

Na reportagem de TV, o texto narrado por um repórter é conhecido como “off“, que significa locução coberta por imagens. Algumas técnicas de escrita deixam o off de um repórter mais atraente e eficiente. A interpretação do texto também faz muita diferença, mas neste post tratarei apenas de algumas técnicas de um bom texto telejornalístico.

Abre da matéria

Existem inúmeras maneiras de se iniciar uma reportagem de TV. Uma delas é começar o texto com o que há de mais interessante, importante, forte e atual, seja por meio de imagens, declarações ou informações.

Outra maneira é começar pelo “personagem” – uma pessoa atingida diretamente pelo assunto a reportar.

Exemplo: Um casal que foi um dos primeiros a comprar a casa própria por meio de um novo financiamento criado pelo Governo. Depois de conversar com os personagens no abre, o repórter começa a informar detalhes da linha de crédito, como consegui-la etc.

Texto pra TV

Deve ser conciso, claro e objetivo, ou seja, curto, simples e direto ao ponto. Frases bem pontuadas são mais fáceis de serem compreendidas, afinal, o telespectador não terá uma segunda chance ouvir o que o repórter disse.

Em reportagens o indicado é evitar os adjetivos, para que o texto seja o mais imparcial possível e apenas se restringir a reportar o fato.

Em algumas reportagens com deadline muito curto, o repórter deverá escrever o texto do off no local das gravações. Geralmente, ele dobra a folha da pauta ao meio, na vertical, e usa as costas da página em branco para escrever (veja na foto). Se preciso for, o repórter grava o texto dentro do carro de reportagem e envia o material (off gravado e fita bruta) por um motoboy.

Thiago Moraes escrevendo OFF no carro de reportagem. (Foto: Arquivo pessoal)
Thiago Moraes escrevendo OFF no carro de reportagem. (Foto: Arquivo pessoal)

Na hora de digitar o off no computador, prefira “caixa alta” (letras maiúsculas). Isso facilita a leitura.

Nos pontos finais, normalmente se usa duas barras (//). Elas também ajudam na interpretação para encerrar o assunto.

Frases

Formule estruturas simples de frases com sujeito + verbo + predicado.

Exemplo 1: “O atacante recebeu a bola e partiu pro gol. O goleiro foi pra cima, mas Gustavo foi mais rápido. Um a zero para o time da casa.”

Exemplo 2: “Francisco é a esperança da equipe médica. O carpinteiro ganhou o primeiro coração artificial do Brasil. A cirurgia levou 12 horas e não teve qualquer complicação.”

Preste muita atenção nas concordâncias verbais.

Exemplo: “A maioria das mulheres é (e não “são”) mais emotiva (e não “emotivas”) que os homens.”

Palavras

O poeta francês Paul Valery (1871 – 1945) dizia: “Entre duas palavras, escolha sempre a mais simples. Entre duas palavras simples, escolha a mais curta.” Meu conselho é o mesmo.

Exemplo: ao invés de “residência”, use “casa”; ao invés de “transeunte”, use “pedestre”; ao invés de “automóvel”, use “carro”, ao invés de “orquestrado”, use “planejado” etc.

Corte os pleonasmos (as redundâncias – repetição de ideias).

Exemplo: “subiu pra cima”, “desceu pra baixo”, “saiu pra fora”, “cair pra baixo”, “multidão de pessoas”, “elo de ligação”, “monopólio exclusivo”, “principal protagonista” etc.

Seja criativo e abuse dos sinônimos. Em uma mesma frase evite duas palavras iguais, mas sem transformar o texto em uma “aberração”. Se ficar estranho, reformule as frases ou incorpore uma na outra sem que fiquem muito longas.

Jargões

Não complique com palavras difíceis usadas apenas por profissionais como policiais, médicos, cientistas, engenheiros, advogados etc. O repórter deve traduzir essas palavras para o grande público. Se não souber o significado, não se intimide em perguntar para um profissional competente. Se o jargão for necessário no texto, use, mas explique-o em seguida.

Exemplo: “O Governo proibiu as empresas aéreas de fazer overbooking, ou seja, vender passagens acima da capacidade dos aviões.”

Imagem x texto

As imagens, feitas pelos cinegrafistas, têm muita informação visual para a reportagem em TV. Não é necessário descrevê-las. Elas são valiosas para complementar o texto e ilustrar o que está sendo dito. Cinegrafista e repórter devem estar em sintonia. Um precisa saber o que o outro pensa em fazer na matéria para que tudo seja aproveitado na edição.

Estrutura

Basicamente, uma reportagem de TV tem a seguinte estrutura:

OFF (texto de “abre” da matéria)
PASSAGEM (momento em que o repórter aparece com mais informações)
OFF (texto com mais informações)
SONORA (entrevista – um dos lados)
OFF (mais informações)
SONORA (entrevista – o outro lado)

A ordem acima é básica e constantemente alterada ou ampliada dependendo da necessidade e da criatividade do repórter ou editor de texto. Normalmente as reportagens em TV começam pelo off, mas nada impede de se iniciar com uma sonora, um clip ou mesmo com a passagem. No meio dessa estrutura básica podem ser inseridos SOBE SOM, CLIP, BG (trilha sonora de fundo), ARTE GRÁFICA etc.

As laudas (páginas) usadas pelos repórteres para escrever o relatório de reportagem (off) podem ser divididas em duas colunas. A da esquerda é para inserir informações técnicas, como nome do entrevistado, arte e imagens a serem utilizadas. A coluna da direita é para o texto que será narrado.

Outra opção é uma lauda simples, a mais usada. Veja um exemplo abaixo de uma reportagem factual fictícia de um assalto a banco:

RETRANCA: ASSALTO / BANCO (identificação da reportagem)
DATA: 20/04/2015
REPÓRTER: THIAGO MORAES
IMAGENS: JOÃO DA SILVA
PAUTEIRA: JOANA SANTOS
MÍDIA: 254412 (identificação da mídia da matéria bruta, gravada na externa)

SUGESTÃO DE CABEÇA: UMA QUADRILHA EXPLODE UM CAIXA ELETRÔNICO NO CENTRO DE SÃO PAULO, NA MADRUGADA DE HOJE.// OS LADRÕES FUGIRAM EM UMA VAN, MAS BATERAM DURANTE A FUGA.//

OFF 1: A AÇÃO DOS BANDIDOS FOI GRAVADA PELAS CÂMERAS DE SEGURANÇA DO BANCO.// QUATRO HOMENS ENCAPUZADOS CHEGAM AO LOCAL POR VOLTA DAS DUAS DA MANHÃ.// ELES COLOCAM OS EXPLOSIVOS E SAEM.// SEGUNDOS DEPOIS, ACONTECE A EXPLOSÃO.// O BANDO VOLTA, ABRE OS CAIXAS ELETRÔNICOS DANIFICADOS E FOGEM COM O DINHEIRO.// HOJE PELA MANHÃ, O CENÁRIO ERA DE DESTRUIÇÃO.//

PASSAGEM: THIAGO MORAES – SÃO PAULO
A EXPLOSÃO DESTRUIU PARTE DA ENTRADA DA AGÊNCIA, QUE FICA NO BAIRRO SANTA CECÍLIA, NO CENTRO DE SÃO PAULO.// UMA DAS PAREDES RACHOU COM O IMPACTO.// PELO CHÃO, ESTÃO OS VIDROS DAS PORTAS E PEDAÇOS DOS CAIXAS.// LÁ DENTRO, A POLÍCIA ENCONTROU ESTE MAÇARICO USADO PELOS BANDIDOS PARA IMPLANTAR OS EXPLOSIVOS NOS EQUIPAMENTOS.//

OFF 2: ESSE MORADOR PRÓXIMO DA AGÊNCIA DISSE QUE OUVIU A EXPLOSÃO.// ELE NÃO QUER APARECER PORQUE TEM MEDO.//

SONORA: SEM IDENTIFICAÇÃO – FAVOR DISTORCER A VOZ
(2’35” eu estava vendo TV quando… até … já não vi mais nada” 2’43”)

OFF 3: ESTA OUTRA CÂMERA DE UMA LOJA MOSTRA A VAN DA QUADRILHA PASSANDO EM ALTA VELOCIDADE.// CERCA DE TRÊS QUILÔMETROS DA AGÊNCIA, O MOTORISTA PERDEU O CONTROLE EM UMA ÁRVORE.// OS BANDIDOS FUGIRAM COM O DINHEIRO DO FURTO.//

SONORA: SGTO. LUCIANO CARDOSO – POLICIAL MILITAR
(5’15” esse veículo foi roubado na semana passada… até… até encontrar os suspeitos 5’27”)

SUGESTÃO DE NOTA PÉ: TRÊS DOS QUATRO BANDIDOS JÁ FORAM PRESOS PELA POLÍCIA.// PARTE DO DINHEIRO, CERCA DE 15 MIL REAIS, FOI RECUPERADA.// A QUANTIA TOTAL ROUBADA NÃO FOI INFORMADA PELO BANCO.//

Por Thiago Moraes

Perfil de Thiago Moraes

Thiago Moraes
Repórter e apresentador de telejornais, Thiago Moraes (31) trabalha com jornalismo televisivo desde 1996, quando iniciou na área técnica (atrás das câmeras). Formou-se em jornalismo pelo UNIFAE, em 2005, na cidade natal (São João da Boa Vista-SP). Pós-graduado em Linguagens Midiáticas e pós-graduando em Jornalismo Econômico pela PUC-SP. Thiago Moraes é autor de mais de 3 mil reportagens televisivas e também escreve para o blog TELE BLOG NEWS – Bastidores do jornalismo em TV.

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