Não tem como escapar, em vários momentos de nossas vidas nos deparamos com questões éticas nas quais temos que escolher sobre o melhor caminho a ser tomado. Até aí tudo bem, mas o problema é que muitas vezes a diferença entre o caminho certo e o errado é tênue demais. Nessas horas o que conta é a preparação prévia de cada um. Essa preparação não é feita nos bancos de faculdade, aí ela apenas pode ser incentivada. A ética se origina na formação que cada um recebe de seus familiares.
Além dos valores éticos que são universais, existem os que são próprios da profissão que cada um exerce. E com os jornalistas não é diferente. E é sobre isso que o jornalista e professor Rogério Christofoletti trata em seu livro “Ética no Jornalismo”.
A obra publicada pela editora Contexto é iniciada com a quebra de cinco mitos: o de que cada um tem a sua ética, o de que a ética é uma coisa abstrata, o de que a ética é uma só, o de que a ética é um assunto acadêmico e o de que a ética se aprende na escola.
Termos como ética e moral são distinguidos de forma clara. A moral é “um conjunto de valores que orientam a conduta, as ações e os julgamentos humanos. (…) É com base em valores morais que fazemos escolhas sobre nossas condutas e atuamos diante de situações cotidianas”.
Já a ética é “aquilo que os homens fazem com a moral”. Essa mesma ética é dividida em duas dimensões: a individual, na qual são mobilizados os valores pessoais; e a social, na qual operam os valores que absorvemos dos grupos sociais que freqüentamos. Muitas vezes temos que abandonar nosso juízo pessoal e optar por saídas orientadas pelos valores do coletivo.
Após apresentar a parte mais técnica da ética, Christofoletti apresenta dilemas éticos apresentados para os jornalistas que cobrem política, economia, cultura e polícia.
Casos célebres do jornalismo são apresentados, tais como o Caso Watergate e o Caso Escola Base. No primeiro, graças a sagacidade de dois repórteres (Bob Woodward e Carl Bernstein) e uma apuração bem feita, os jornalistas conseguiram a renúncia do presidente Richard Nixon, além de prestígio, dinheiro e uma série de prêmios. Já no segundo caso, ocorrido aqui no Brasil no ano de 1994, por uma série de erros, os diretores de uma escola infantil e seus funcionários foram linchados moralmente e quase fisicamente devido a publicação de denúncias de que as crianças que freqüentavam essa escola eram vítimas de abuso sexual, as supostas evidências foram tratadas como provas e apesar de mais tarde o caso tenha sido arquivado e os acusados inocentados, nunca mais puderam voltar às suas vidas normais.
Christofoletti dedica um capítulo inteiro para apresentar os diversos códigos de ética do jornalismo (da Associação Nacional dos Jornais (ANJ); da Associação Nacional dos Editores de Revistas (ANER); da Associação de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert); da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj); da Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ); entre outros.
Ainda no capítulo sobre os códigos de ética do jornalismo, o autor faz a distinção entre as leis e as recomendações morais. As primeiras “provêm de um poder central, aplicam-se a todos de uma comunidade e prevêem punições aos que as desrespeitam”, já as segundas “são geradas na e pela comunidade a que se destina” e ao contrário das leis, “não são intimações ou obrigações, mas recomendações”, como o próprio nome já diz.
As novas tecnologias também são lembradas no livro e com elas surge a indagação: as mudanças tecnológicas pressupõem mudanças éticas¿ Mas como em praticamente todo o livro, são apresentadas mais perguntas do que respostas. Dessa forma, Christofoletti pretende que o leitor reflita sobre as diversas situações que ele irá encontrar no exercício de sua profissão e a melhor maneira de se sair delas.
Ao final e durante todo o livro, o autor apresenta uma vasta quantidade de sugestões de leitura sobre o tema da ética. Dentre eles ressaltamos os títulos: “Jornalismo, ética e liberdade”, de Francisco José Karam; “Ética da informação”, de Daniel Cornu; “Sobre ética e imprensa”, de Eugênio Bucci; “Procura-se ética no jornalismo”, de H. Eugene Gooswin; e “Os elementos do jornalismo”, de Bill Kovach e Tom Rosenstiel.
Por Emílio Portugal Coutinho