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Condenados a conviver

(Foto: Pixabay)
(Foto: Pixabay)

A civilização sobreviveu graças a convivência. Nas sociedades pré-históricas os seres humanos precisavam um do outro para não morrer. Juntaram-se para enfrentar o meio ambiente que era hostil e as condições de vida precárias. O instinto de sobrevivência os enfiou em cavernas e a volta do fogo. Participar de um grupo ao mesmo tempo garantia a busca mais eficiente de alimentos, geralmente caça, e a defesa diante dos ataques de animais em busca de comida. Ainda que as regras sociais fossem bastante primitivas, todos sabiam que era preciso resolver as divergências dentro do grupo. Com o sem a intermediação dos mais fortes e ou mais velhos. Mesmo com a revolução agrícola e a formação das sociedades hidráulicas os grupos não se desfizeram, pelo contrário aumentaram e fundaram civilizações como egípcia, mesopotâmicas, chinesa e hindu. Mesmo com a formação de grandes impérios e conquista de outros povos, nenhum Estado poderia viver constantemente em guerra. Passada a conquista era necessário estabelecer as regras de convivência, sob pena de, mais cedo ou mais tarde, os conquistados se revoltarem contra os conquistadores.

Passados tantos séculos os seres humanos se concentram cada vez mais. Dos pequenos burgos medievais e vilas distantes para as grandes cidades do Século 21. Ou seja são obrigados a conviver com muito mais gente, quer nos meios de transportes, estádios esportivos, ou nos shoppings. Atualmente 60 por cento da população do planeta, 80 por cento no Brasil, vivem em cidades. Pequenas e médias cidades esvaziaram e tornaram-se megalópole. A mancha urbana que envolve as cidades em um círculo de 150 quilômetros de São Paulo possui uns 30 milhões de habitantes. Há espaço no interior do país para que essa população se espalhe, mas ela prefere se juntar em grandes formigueiros. Repetem a constatação do Antonil, no Brasil colonial que a população se amontoava no litoral. No ritmo atual o número de habitantes do planeta nos próximos 15 anos pode passar de 8 bilhões de pessoas. Houve uma inversão: na pré-história a natureza ameaçava o homem, hoje é o homem quem ameaça a natureza. De um jeito ou de outro é um tiro no pé uma vez que não há vida sem natureza.

Estamos condenados a viver juntos. Salvo os que optam por se tornar eremitas motivados pela religião ou decepção com a civilização. Para que a convivência humana não se torne a experiência de laboratório, onde ratos se tornam canibais para impedir o superpovoamento, é preciso agir com responsabilidade. Viver juntos representa aprender a conviver com a diferença em termos raciais, étnicos, religiosos, políticos e econômicos, diz Richard Sennet. É o nosso destino. Seja em uma caverna, na estação espacial, na escola ou no trabalho. Não há vida além da convivência. Não há cultura. Não há progresso. Não há felicidade. Não há salvação. Em espaços físicos ou virtuais criados pela tecnologia. Viver juntos pressupõe o choque cultural, político, ideológico. Eles são a antíteses da convivência e um não existe sem o outro. A argamassa da convivência é a tolerância e a compaixão.

Por Heródoto Barbeiro

Perfil de Heródoto Barbeiro

Heródoto Barbeiro

Heródoto Barbeiro é jornalista, âncora do Jornal da Record News e do R7, diariamente as 21h. Ex-apresentador do Roda Vida da TV Cultura e do Jornal da CBN. Autor de vários livros na área de treinamento, história, jornalismo e budismo.

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Emílio Coutinho
Emílio Coutinho
O jornalista, professor universitário e escritor Emílio Coutinho criou a Casa dos Focas em 2012 com o objetivo de oferecer um espaço para o ensino, a reflexão, o debate e divulgação de temas ligados ao jornalismo e à comunicação em geral.
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