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Igualdade, Liberdade e Fraternidade

O noticiário reforça a tese de que o que faz um escravo não é a cor de sua pele, mas a maneira pela qual uma pessoa é explorada, transformada em uma mercadoria e vendida ou trocada por objetos. Foto: Pixabay
O noticiário reforça a tese de que o que faz um escravo não é a cor de sua pele, mas a maneira pela qual uma pessoa é explorada, transformada em uma mercadoria e vendida ou trocada por objetos. Foto: Pixabay

Se houvesse um inquérito no qual todos os escravos pudessem depor livremente (à parte os indiferentes à desgraça alheia, os cínicos e os traficantes), todos os brasileiros haviam de horrorizar-se ao ver no fundo da barbárie que existe em nosso país, debaixo da camada superficial de civilização, onde quer que esta camada esteja sobreposta à propriedade do homem pelo homem. Esta frase de uma atualidade gritante foi escrita por Joaquim Nabuco, no final do Século 19. Ele foi jornalista e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Atuou decisivamente no movimento da abolição da escravidão. Era branco e pertencia a elite intelectual do império brasileiro. Era um humanista e idealista e a forma que encontrou para construir o seu ideal foi atacar duramente o sistema de produção que vigorava no Brasil.

Enquanto existe, a escravidão, tem em si, todas as barbaridades possíveis. Ela só pode ser administrada com brandura relativa quando os escravos obedecem cegamente e sujeitam-se a tudo; a menor reflexão destes, porém, quando os escravos obedecem cegamente e sujeitam-se a tudo, desperta em toda a sua ferocidade o monstro adormecido… O limite da crueldade do senhor está, pois, na passividade do escravo. Desde que esta cessa, aparece aquela… Prossegue Nabuco. Sua família era proprietária de um latifúndio, mas ele era um liberal, e por idealismo adotou a causa da abolição. É verdade que havia pressão externa, principalmente britânica. Os historiadores argumentam que o sistema capitalista havia entrado no período industrial e a mão de obra escrava não era mais adequada, como foi no período anterior quando se deu a acumulação primitiva do capital. O trabalho assalariado, mais produtivo, não conseguia concorrer com o trabalho escravo no mundo.

Estas reflexões não estão condicionadas ao passado. O noticiário ainda descobre a existência da escravidão humana no século 21 e reforça a tese que o que faz um escravo não é a cor de sua pele, mas a maneira pela qual uma pessoa é explorada, transformada em uma mercadoria e vendida ou trocada por objetos. O presente mostra que outras justificativas ideológicas surgiram para perpetuar a degradação humana da escravidão, como o fundamentalismo religioso comum em alguns continentes. A escravidão ganhou outras dimensões. O tráfico de mulheres, crianças e homens não se faz mais em navios horripilantes, mas em veículos quatro por quatro ou em jatos intercontinentais. Grupos armados com fuzis invadem cidades e aldeias e levam todos. Separam famílias, matam os que resistem e prosseguem seu caminho de destruição. Não estão muito distantes dos sobas do século 16. O combate à escravidão, que era uma missão de um povo, hoje é de responsabilidade de toda a humanidade. Em tempo, Igualdade, Liberdade e Fraternidade era o nome de um dos navios que traficavam africanos para o Brasil.

Por Heródoto Barbeiro

Perfil de Heródoto Barbeiro

Heródoto Barbeiro

Heródoto Barbeiro é jornalista, âncora do Jornal da Record News e do R7, diariamente as 21h. Ex-apresentador do Roda Vida da TV Cultura e do Jornal da CBN. Autor de vários livros na área de treinamento, história, jornalismo e budismo.

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Emílio Coutinho
Emílio Coutinho
O jornalista, professor universitário e escritor Emílio Coutinho criou a Casa dos Focas em 2012 com o objetivo de oferecer um espaço para o ensino, a reflexão, o debate e divulgação de temas ligados ao jornalismo e à comunicação em geral.
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