InícioDebate FocaManifestações do movimento Passe Livre: dois lados de uma história

Manifestações do movimento Passe Livre: dois lados de uma história

Esse texto é sobre a cobertura jornalística que fiz do quarto grande ato contra o aumento das passagens do transporte público, que aconteceu ontem (13/06- quinta-feira) em São Paulo.

O protesto começou no Teatro Municipal. Havia muitos estudantes, professores e até idosos.

Os gritos de mudança eram: ‘’Mãos para o alto, 3,20 é um assalto!’’, “Sem violência’’, ‘’São Paulo vai parar!’’ e ‘’O povo acordou! ‘’.

Camila Rodrigues, 24 anos, era uma das jovens presentes no protesto. Ela destacou a importância da população se manifestar: “Se o transporte público é tarifado, por que ele é de péssima qualidade?”.

Camila criticou o posicionamento da imprensa sobre os protestos. “A mídia é vendida, porque corre lado a lado com o governo, então vão divulgar o que eles querem. É uma mídia fascista igual ao governo. Coloca os manifestantes contra o Estado e contra a população leiga, que não sabe o que está acontecendo. Somos vendidos como vândalos, tudo para acabar com o movimento. Distorcem sempre, como fizeram na manifestação dos professores. É taxar a população de burra’’.

Jonathan Almeida, 20 anos,também afirmou estar indignado com a distorção feitas pelos veículos de comunicação. “Minha mãe liga desesperada para saber o que está acontecendo, porque mostram que estamos destruindo o patrimônio público, quando, na verdade, é uma minoria que está fazendo isso. Ontem [12/06] no início da manifestação fomos recebidos a tiros! A TV deveria mostrar as faixas e o significado do que estava escrito nelas”, disse o estudante.

Jonathan destacou a necessidade de engajamento do brasileiro: “O Brasil é um país que não é politizado e eu aprendi que temos direitos. Chega de roubarem nosso dinheiro, o impostômetro marcou 700 bilhões! Isso é uma vergonha pela qualidade que temos no país. È preciso se indignar!”.

Ricardo, 31 anos,ressaltou que é uma hipocrisia querer uma manifestação sem ocupação das ruas. “Não dá pra fazer protesto em fila indiana, sem atrapalhar o trânsito. Protesto é protesto! Quem anda de ônibus sabe o porquê de estarmos nos manifestando. Quero fazer parte de uma sociedade ativa!’’ , sustentou ele, que estava de terno, no meio da manifestação.

No protesto havia pessoas com diferentes intenções. Muitos realmente estavam protestando com um propósito, como as pessoas que entrevistei. Havia também oportunistas que atrapalhavam o protesto, pegando pedras e barras de ferro para destruir o patrimônio e para assaltar pessoas que estavam em seus veículos. Quando os organizadores do protesto viam isso, tiravam as pedras das mãos dos oportunistas, pediam para que parassem porque o objetivo não era aquele, e sim fazer um ato sem violência.

Eu, como repórter acompanhando a manifestação, me lembro de cada detalhe. No momento do ataque, realmente não esperava ser atingida, porque estava no meio, e não na frente ou atrás. Eu estava pronta pra correr quando um grupo de cinco pessoas falou para eu não correr e sim me sentar, para que os policiais não atacassem. Naquele momento eu olhei para todos os lados e vi que estava cercada, não tinha pra onde fugir. Pensei: o que eu vou fazer? Nesse momento fui atacada, os policias lançaram a bomba de gás lacrimogênio, eu fiquei com falta de ar, meu rosto queimava e meus olhos e boca ardiam. Levantei a mão, sem ar, e disse: “Alguém me ajuda!” Fui perdendo a consciência e caindo. Lembro-me que olhei para um homem e ele tirou um pano que estava no seu rosto e colocou no meu. Fui carregada por ele e duas meninas que me deixaram em um tipo de uma garagem. Comecei a vomitar e não conseguia pensar. Gritava chorando: “Me ajudem!”. Eu sentei e eles colocaram panos em meu rosto com vinagre, pediam para que eu tivesse calma e não passasse a mão no rosto. Relato isso neste momento com lágrimas… A sensação era de que realmente ali seria meu fim. Depois esse grupo me deixou e seguiu porque a polícia estava vindo. O barulho dos escudos era assustador. Naquele beco eu não conseguia sair, não tinha força. Então outras pessoas entraram, um outro grupo de seis pessoas. Eles me ajudaram também. Um rapaz que estava com sua namorada pegou a minha mão e começou a levar ela e eu para longe dos policiais. Eu nunca vou esquecer o que eu passei… E eu só estava tentando fazer meu trabalho de jornalista.

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E você? O que está fazendo para mudar o Brasil? Defender apenas um lado e esquecer dos outros? Será que o protesto inteiro estava errado? Vandalismo e violência aconteceram somente no protesto? Ou acontecem todos os dias? Policiamento despreparado é de hoje? Ou já estava? Veículos de imprensa manipuladores que defendem seus interesses são de hoje? Ou sempre existiram? Pense!

Leia também: A Turquia é logo ali

 Por Daiany Araujo de Oliveira.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Finalmente o Brasil acordou, fico feliz por isso… Lamentável é o que a mídia faz com estes protestos, com desejo de mostrar que todos que estavam ali eram vândalos, desocupados, generalizando atitudes de um pequeno grupo que ali também estava, sem antes mostrar a verdadeira finalidade desse protesto. Ótimo texto, e ótima cobertura, parabéns Daiane 🙂

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