InícioTCCsO TCC: da primeira ideia à sessão de autógrafos

O TCC: da primeira ideia à sessão de autógrafos

Se você também sente que seu trabalho pode alçar voos para além da faculdade, então vale a pena pensar desde a definição do tema até onde se deseja chegar.

(Foto: Gabriel Toma e Rafaela Ortiz, Produtora See&be)

Até onde um TCC pode ir? No nosso caso, ele virou um livro: “Corações de Asfalto”, da editora Patuá. Apesar do árduo caminho até aqui, de uma coisa sempre soubemos: não queríamos que todo esse trabalho acabasse em um canto esquecido, cheio de pó, depois da banca de avaliação. Se você também sente que seu trabalho pode alçar voos para além da faculdade, então vale a pena pensar desde a definição do tema até onde se deseja chegar. Um trabalho bem-feito merece e deve amadurecer junto com o foca.



A definição do tema e formato

O processo de “Corações de Asfalto” começou quando saímos pela Avenida Paulista em busca de histórias peculiares, ainda em 2015, e encontramos dois personagens inusitados: Eduardo Lages, um escritor que redigia seus livros em uma caderneta e vendia os exemplares editados por ele mesmo em uma mesinha retrátil na calçada; e Cláudio Bongiovani, ex-morador de rua que perdeu toda a família, se recuperou graças ao projeto social Ocas e hoje vende revistas culturais onde antes dormia. Ambas as histórias nos impactaram. Quando chegou a hora de decidir o tema e formato do TCC, sabíamos que queríamos fugir do jornalismo tradicional e contar as histórias dessas pessoas.

A decisão de um formato (documentário, podcast, programa de TV, livro-reportagem…) e da temática a ser abordada é um momento crucial. Ou seja, é importante neste momento fazer algo de que goste ou que muitas vezes não se tem chances de testar profissionalmente. Um tema e formato na área em que deseja seguir também é importante, já que em entrevistas de emprego podem perguntar sobre o último ano da faculdade e o TCC pode também pautar futuros projetos seus.

Quando tivemos que definir nosso projeto, lembramos dos dois sujeitos que encontramos na Paulista e pensamos: o que eles têm em comum? A resposta era óbvia: a rua. A partir disso, optamos por um livro-reportagem, no gênero jornalismo literário, com perfis de anônimos que trabalham nas ruas de SP. Assim será para muitos dos que leem esse texto. Sempre haverá um formato que chamou a atenção desde o começo, um estilo de reportagem, uma temática escondida por trás de algo que se queira abordar. O importante é jogar as ideias no papel e encontrar possíveis conexões. Acreditem, elas estão lá.



O processo de entrevistas e dificuldades

Claro que elaborar o projeto é apenas o começo: realizá-lo é o verdadeiro desafio. A apuração de “Corações de Asfalto” demandou que saíssemos às ruas sem pauta em inúmeras ocasiões e que encarássemos muitas negativas. Chegamos a encontrar pessoas com quem não pudemos manter contato por diversos motivos e, como os personagens estavam sempre sujeitos às intempéries das ruas, nem sempre mantinham rotinas tão fixas. Após meses de entrevistas, recolhemos uma enorme quantidade de material e botamos a mão na massa para transformar aquelas conversas, observações, dados e depoimentos em perfis de jornalismo literário. Muitas vezes pensamos até onde poderíamos invadir a vida da pessoa para contar sobre ela. Passamos horas de pé nas ruas ao lado desses personagens, entrevistamos seus amigos, familiares, revelamos suas intimidades, qualidades, defeitos e procuramos nos seus depoimentos a coerência que a história oral não é capaz de oferecer sozinha.

(Foto: Divulgação)

Arrumar esse emaranhado foi difícil. No meio do caminho sempre bate um desânimo, chegamos até a enjoar dos temas e, como toda ideia, a realidade sempre se apresenta muito diferente. Nessas horas, pensar no que o TCC pode render depois da banca também ajuda. Sempre imaginávamos que aquilo não era apenas um trabalho de faculdade, mas um verdadeiro projeto de carreira, que ainda seria lido por muita gente.

O processo todo também envolve entender mais sobre o tema, o gênero e o formato que desejou abordar. É necessário procurar trabalhos semelhantes, entender sobre o que está falando e, no nosso caso, pensar em tudo o que poderia ser utilizado futuramente quando o TCC virasse um livro, imaginando como aquilo iria chegar em pessoas que não eram apenas jornalistas e como faríamos para as histórias prenderem a atenção do leitor. Nesse sentido, foi crucial ler autores como Gay Talese, Janet Malcolm e João do Rio para nos inspirar em seus textos, assim como entender exatamente o que era jornalismo literário e procurar também quem são as pessoas que trabalham com isso na atualidade. Afinal, essas pessoas estarão muito mais próximas da nossa realidade. Foi quando passamos a ler também Eliane Brum, Christian Carvalho Cruz, Vitor Hugo Brandalise, Monica Martinez, entre tantos outros.



Da banca à reestruturação do projeto

Quando 2016 se encaminhava para o final, encerramos o projeto e o apresentamos à banca de avaliação na Faculdade Cásper Líbero. É justamente aí que a maior parte dos TCCs acaba. Aprovados, os alunos buscam se colocar no mercado de trabalho e esquecem de todo o esforço e planejamento que tiveram. Não permitir que isso perdure é o momento decisivo.

No nosso caso, optamos por deixar o texto na gaveta durante o ano de 2017, enquanto fazíamos contatos no meio literário. Nesse sentido, a primeira ação que deve ser feita é procurar que tipo de locais publicam o que você fez. Se foi um livro, procure editoras que já publicaram algo semelhante recentemente. Faça o mesmo com vídeos, programas de rádio, sites, etc. Depois, tente entrar em contato com esses locais. Procure falar também com as pessoas que já publicaram nesses espaços, provavelmente elas contarão qual foi o caminho seguido por elas.

Para o Corações de Asfalto, foi muito importante entender as editoras que poderiam se interessar pelo livro e ir nos lançamentos para falar com autores e, até mesmo, conhecer o próprio editor (algo possível em pequenas e médias editoras). Esse tempo que demos do projeto foi crucial, pois estávamos exaustos, queríamos seguir com outros sonhos, entender como é a vida depois de formados. Além do mais, depois de um distanciamento, começamos a perceber erros que não tínhamos notado, sentíamos mais força para continuar a jornada e, principalmente, nos reencantarmos pelo TCC. Após enviar e ter o livro aprovado pelo editor da Patuá, pudemos atualizar seus dados, corrigir as falhas e refazer o que não havia funcionado. Este também é um momento que exige paciência. Muitas vezes, você pode sentir que está recomeçando tudo, mas não é verdade. O processo de edição é sempre doloroso e vai exigir que reveja o que fez milhares de vezes.

(Foto: Gabriel Toma e Rafaela Ortiz, Produtora See&be)

Publicando o livro

Por todos esses motivos, muitos trabalhos ficam esquecidos. Não dá para mentir, dizer que vai ser fácil e nem que o TCC acaba quando você recebe o produto final nas mãos. Encerradas todas as etapas da edição do livro, é hora de divulgar seu trabalho, entrar em contato com jornais, falar com amigos, chamar as pessoas para o lançamento, promover debates sobre o tema, inscrever sua obra em concursos. Enfim, ter criatividade para que tudo seja um trampolim para o próximo projeto.

Precisamos saber que, assim como o último ano da faculdade é apenas o começo do seu TCC, que a aprovação na banca é somente o início da jornada profissional e que o ponto final em seu livro é só a largada para todo o trabalho que surge após a escrita, também essa etapa final de publicação é o começo de muitos outros caminhos. E, claro, existe a recompensa por todo esse trabalho. Até agora falamos muito das dificuldades — porque enfrentá-las é primordial para fazer dar certo e conhecê-las é estar preparado —, mas é o prazer de fazer jornalismo que te guiará por todos os desafios. Entrevistar pessoas e descobrir histórias é uma delícia, colocá-las no papel (ou em qualquer outro formato) é sentir que você é capaz de contá-las. Publicar um livro significa chegar em muito mais pessoas para que elas também conheçam o tema que tanto os encantou.

Esperamos que esse texto dê uma força a todas as pessoas que desejam sonhar mais alto. Fiquem à vontade para mandar e-mails e nos adicionar para tirar qualquer dúvida. Também é com muita alegria que convidamos todos para ir no debate que mediaremos sobre jornalismo literário na Casa Guilherme de Almeida, dia 12 de maio, às 15h, na Rua Cardoso de Almeida, 1943, Sumaré. Neste dia, falaremos um pouco sobre o que é este gênero, como fazer, suas dificuldades, além de como ele era no passado e quais são as suas perspectivas. Na mesa, estarão conosco os jornalistas que tanto nos influenciaram durante a preparação do TCC: Christian Carvalho Cruz, Vitor Hugo Brandalise, além da pesquisadora Monica Martinez.

Por André Cáceres e Bruna Meneguetti.




Perfil dos autores

André Cáceres é escritor e jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Autor do romance distópico Cela 108 (Multifoco, 2015), foi um dos vencedores do Concurso Scribe de Contos (2014) e do concurso Pauliceia 900 (2016). Publicado na antologia Além da Terra, Além do Céu (Chiado, 2016), atualmente escreve sobre literatura para o jornal O Estado de S. Paulo e trabalha em sua próxima ficção científica, Nebulosa.

Bruna Meneguetti é escritora e jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero. Autora de O Céu de Clarice (Amazon, 2017), foi publicada na antologia Curva de Rio (Giostri, 2017) e no livro do Prêmio Catarata de Contos e Poesias (2017). Ganhou o edital da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo para lançar, em 2018, seu romance histórico O Último Tiro de Guanabara.

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