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Como fazer cobertura de protestos e sair ileso… ou quase

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), divulgou recentemente uma série de instruções dadas pelo INSI (International News Safety Institute) para jornalistas que atuam na cobertura de protestos.

Com sede na Inglaterra, o INSI tem se dedicado, durante os seus 10 anos de existência, a apoiar e oferecer treinamento em segurança para profissionais de imprensa.

Segundo a ABRAJI, a lista apresenta recomendações “que podem (e devem) ser adaptadas de acordo com as peculiaridades de cada veículo e jornalista”. A associação ainda aconselha que “cada redação discuta normas de segurança antes de enviar as equipes para a rua”.

Veja abaixo as orientações publicadas pela ABRAJI:

1. Antes de sair a campo

– Certifique-se de que sua credencial está válida e à mão. Alternativamente, esteja com sua identificação profissional (crachá da empresa ou similar).

– Pode ser útil alertar as autoridades de que sua organização de mídia planeja cobrir os protestos, se for apropriado e se isso não representar perigo para você. Ou tenha à mão o contato (preferencialmente, o celular) da pessoa responsável na empresa/veículo; quanto mais sênior, melhor (editor, chefe de reportagem etc.)

– Leve equipamento de proteção. Podem ser: capacetes (capacete de ciclista é uma opção acessível), máscaras com purificador de ar, respiradores de fuga e/ou coletes a prova de balas com placas de proteção extra. Escolha de acordo com as armas usadas pela polícia local para controlar a multidão.

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– No caso de gás lacrimogênio, use uma máscara com purificador ou um respirador de fuga (se disponíveis) para proteger seus olhos e pulmões. Se você planeja levar esse equipamento, certifique-se de que você tem a versão/filtro apropriados para gases, não apenas para partículas.

– Se você não tem acesso a estes equipamentos, a melhor alternativa são máscaras com purificadores e respiradores de meia-face ou descartáveis, que são mais baratos.

– Se você não tem acesso a nenhuma das opções anteriores, use um pano seco sobre a boca para tentar proteger seus pulmões e saia de perto o quanto antes. Considere usar óculos de proteção. Mulheres: considerem não usar maquiagem, pois o gás adere a ela.

– Se você não tiver um pano seco ao alcance, puxe sua blusa para cobrir o nariz e a boca e assim proteger o fluxo de ar. O ar no lado de fora da blusa provavelmente estará contaminado pelo gás.

– Procure não usar lentes de contato, já que o gás lacrimogênio entra por baixo delas.

– Use calçados confortáveis, com os quais você possa correr.

– Use tecidos naturais, pois são menos inflamáveis que os sintéticos.

– Prepare uma mochila com suprimentos suficientes para um dia: capa de chuva leve, alimentos leves e água, baterias de reserva para equipamentos eletrônicos, equipamento de proteção.

– Não coloque bolsas ao redor do pescoço nem leve nada que não possa carregar com você.

– Use um porta-documentos amarrado ao corpo sob a roupa para mantê-las com você. Também pode ser uma tornozeleira que comporte dinheiro, celular extra, cartões extras e bateria. Mulheres: o sutiã pode ser uma alternativa.

– Leve um kit de primeiros-socorros e esteja apto a usá-lo.

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– Carregue uma cópia de sua credencial ou identificação de profissional da imprensa e os números de telefone de seu editor e de seu advogado (ou do advogado da empresa). Certifique-se de que seu editor saberá quem (família, amigos) e como contatar no caso de você ser preso ou ferido.

– Configure um número de emergência para discagem rápida em seu celular.

– Se possível, estude o mapa da área antes de ir a campo. Considere filmar o local previamente a partir de lugares altos.

– Faça um exercício mental de “e se?” – e planeje o que você pode fazer em cada situação imaginada. Não saia a esmo, sem qualquer planejamento.

– Combine um ponto de encontro com sua equipe, caso vocês se percam, e um lugar seguro para onde ir caso a situação fique muito perigosa.

2. Em campo

– Tente não ir sozinho. Se puder, leve alguém para vigiar a retaguarda enquanto você fotografa.

– Assim que chegar, procure por rotas de fuga e certifique-se de que saberá para onde ir se perder a orientação.

– Tente permanecer às margens da multidão e não fique entre policiais e manifestantes.

– Mova-se vagarosamente em meio às multidões e siga o fluxo se possível. Mantenha uma postura firme e use as mãos para abrir caminho, como se estivesse nadando em meio às pessoas.

– Multidões têm vida própria. Esteja sempre atento ao humor e à atitude geral.

– Avise seus editores se o humor começar a mudar e comece a pensar em um plano.

– Se planejar mudar de direção, verifique a situação de lá com pessoas que estejam vindo de onde você pretende ir.

Cinegrafista é atingido por spray de pimenta.
Cinegrafista é atingido por spray de pimenta.

– Equipes de TV devem carregar o mínimo de equipamentos possível. Ao identificar possibilidade de agressão, certifique-se de que sua mochila é grande o suficiente para colocar o tripé e guarde-o. Esteja preparado para deixá-lo para trás se precisar fugir.

– Carregue sua mochila à sua frente, assim você pode vê-la o tempo todo.

3. Quando os ânimos se exaltam

– Evite cavalos. Eles mordem e, obviamente, dão coices.

– Evite ficar na linha de tiro de canhões de água, pois podem danificar seu equipamento. E muitas vezes têm corantes, para que as forças de segurança identifiquem os manifestantes depois.

– Fique contra o vento em situações de gás lacrimogênio e mantenha-se o mais abaixado que puder, para ficar abaixo da névoa do gás, que tende a subir. Assim que a área estiver limpa, ou você tiver mudado de lugar, procure ficar parado por um tempo com as pernas afastadas, os braços abertos e o rosto voltado para o vento até que os efeitos do gás passem. Isso permitirá que o vento sopre o gás das roupas e garante que você receba bastante ar fresco.

– Não use vinagre. Não funciona. Use água.

– Lave suas roupas o quanto antes puder, ou o gás ficará nelas por muitos meses. Isso também vale para capas de microfones e fones de ouvido.

– Se a polícia te prender, tente pedir para eles ligarem para sua chefia, se você tiver o número. Tente falar com um oficial superior, pois isto terá mais impacto.

– Ligue para seu editor, cheque se a empresa disponibiliza serviço jurídico.

– Evite situações de violência, se você puder, e afaste-se para filmar, se necessário.

Giuliana Vallone, repórter da Folha de S.Paulo ferida no rosto durante a cobertura dos protestos em São Paulo.
Giuliana Vallone, repórter da Folha de S.Paulo ferida no rosto durante a cobertura dos protestos em São Paulo.

– Fique de olho nas movimentações da polícia. Veja qual é o calibre/alcance das armas à distância para antever o próximo nível que o embate com os manifestantes atingirá.

– Cuidado com táticas como o “encurralamento” – a polícia direciona a multidão para um local restrito que não permite a dispersão. Cuidado para não ser pego no meio.

– Observe as ruas do entorno. Os policiais geralmente vão se reunindo por ali; tente perceber para onde estão indo.

Por Emílio Portugal Coutinho com informações da ABRAJI.

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Emílio Coutinho
Emílio Coutinho
O jornalista, professor universitário e escritor Emílio Coutinho criou a Casa dos Focas em 2012 com o objetivo de oferecer um espaço para o ensino, a reflexão, o debate e divulgação de temas ligados ao jornalismo e à comunicação em geral.
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