InícioNotíciasKlester Cavalcanti garante: “o espírito de repórter continua no coração”

Klester Cavalcanti garante: “o espírito de repórter continua no coração”

Dias de inferno na Síria. Esse foi o tema abordado na palestra “Jornalismo em zonas de conflito” comandada pelo jornalista Klester Cavalcanti, no último dia 20 de julho. O encontro, voltado aos estudantes de jornalismo, foi realizado durante a programação do “Vira Cultura”, na Livraria Cultura em São Paulo.

Baseada no título de seu livro-reportagem “Dias de inferno na Síria”, lançado em outubro de 2012, a palestra com Klester revelou como o país em guerra virou seu destino, o processo de solicitação do visto de imprensa, à tortura o qual foi submetido quando foi preso e as histórias de diferentes personagens que encontrou. Autor de outras três obras consagradas, o jornalista afirma que não consegue se imaginar sem escrever livros “Não faço reportagem há muito tempo no dia-a-dia, mas o espírito de repórter ainda continua no coração. Sempre quando vejo algum tema interessante, dedico alguns anos de pesquisa para fazer o livro-reportagem”.

Rumo ao ‘front’

Cavalcanti disse que acompanhava e analisava cobertura da guerra na Síria desde seu início, à época, quando trabalhava na ISTOÉ como editor-executivo, planejou e decidiu fazer uma reportagem especial no país, embora essa não fosse a sua função. “O que me levou a ir à Síria foi a vontade e interesse de ver o que acontece em um país que está em guerra. São muitas as histórias que ocorrem entre as pessoas e suas famílias, coisas que não vemos no noticiário”.

Ao conseguir o visto de imprensa da embaixada brasileira, notou que escreveram algumas observações de como deveria proceder na visita ao país. “Queriam controlar o meu trabalho, o que iria fazer lá dentro. Fui de São Paulo à Beirute e não para a capital Damasco, ao chegar lá, peguei um ônibus direto para Homs. Para se cobrir uma guerra, tudo deve estar organizado. É necessário ter as fontes certas e mesmo assim, há riscos. Tive uma preparação psicológica durante meses”.

Klester Cavalcanti contou os bastidores de sua viagem à Síria (Foto: Kelly Mantovani)
Klester Cavalcanti contou os bastidores de sua viagem à Síria (Foto: Kelly Mantovani)

Dias de inferno

Mesmo com diversas barreiras militares espalhadas pela cidade de dois milhões de habitantes, o jornalista conseguiu registrar momentos em sua máquina fotográfica que foram essenciais para compor a obra “Sempre que avistava as barreiras, eu escondia o cartão de memoria da máquina, o que restava eram as imagens de paisagens, mesquitas, etc”.

Obrigado a ir à Damasco pelo Ministério da Informação da Síria, durante o trajeto passou por algumas abordagens, e próximo a capital, foi revistado e levado à penitenciária “Eles não queriam que eu visse a guerra e registrasse, mesmo sendo brasileiro”. Klester disse que foi torturado para assinar um documento em árabe, algemado e preso com outras 20 pessoas “ O que restou da revista era a minha mochila, roupas e bloquinho de anotações…a angustia era não saber nada”. Cavalcanti ainda revelou que conseguiu estabelecer fortes laços de amizade com seus companheiros de cela. “Todos eram da região. Um deles falava inglês. Tratei eles sem preconceitos e percebi que sentiram essa diferença. Nos seis dias que fiquei preso, eles foram como irmãos”, emociona-se .

Retorno ao país

Como visitante legal no país, a redação da ISTOÉ entrou em contato com a embaixada brasileira em Damasco e conseguiu localizar Cavalcanti antes do vencimento do visto. Entretanto, somente foi avisado no último dia que deveria permanecer no país. “Não tinha telefone, nem outro meio de contato com ninguém. Quando soube de minha liberdade, fiquei preocupado, pois sairia no dia seguinte e logo, estaria ilegal e correria um maior risco de ser morto. Enquanto os meus companheiros de cela comemoravam, lutei o tempo todo contra a esperança”, desabafa.

O jornalista afirma que apesar dos riscos que correu e a incerteza de voltar ao país, tinha em mente fazer um bom trabalho. “Não me arrependi em momento algum, nem quando pensava que iria morrer. O que me confortava ali era cumprir a minha missão”.

Cobertura da Imprensa

Em relação à cobertura internacional de guerras, Cavalcanti afirma que o Brasil tem capacidade para estar mais presente em eventos como esse e critica as empresas que enviam seus profissionais longe das cidades em que os conflitos são maiores. “Na maioria das vezes a empresa não quer mandar por questões de interesse e muitos se acomodam. O que vemos são notícias frias com imagens e textos reproduzidos das agências. Há casos em que o jornalista trabalha em Jerusalém e cobre a guerra na Síria. Isso é vergonhoso” , conclui.

Por Kelly Mantovani.

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Perfil de Kelly Mantovani

Kelly Mantovani

Pisciana, paulistana da gema e amante de bons livros. Estudante do terceiro semestre de Jornalismo na FIAM (Faculdades Integradas Alcântara Machado), atua como estagiária em Assessoria de Imprensa na Prefeitura de São Paulo e contribui com muito orgulho sugerindo pautas para a Casa dos Focas.

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