O trabalho de assessoria de imprensa ganhou força no início do século XX, com Ivy Lee, um jornalista americano contratado pelo empresário John D. Rockefeller para recuperar sua imagem diante da opinião pública e que transformou Ivy Lee no Pai das Relações Públicas.
Nos EUA, o trabalho da construção de reputação de uma marca é do RP. No Brasil, ao contrário de muitos países, o jornalista pode exercer esta função, inclusive, atuando paralelamente em um veículo de comunicação, conforme nossa legislação.
Na década de 80, com a greve dos Jornalistas em São Paulo, houve uma grande migração para assessorias. No Brasil, inúmeras assessorias enviam releases, pautas por e-mail à imprensa, fazendo follow up na sequência. Nos EUA, se o jornalista estiver na assessoria, não exerce o jornalismo, as salas de imprensa virtuais são disponibilizadas para facilitar o acesso à imprensa. Tanto o jornalista quanto o RP são formados em Comunicação Social, portanto, são comunicólogos, há necessidade dos cursos de Jornalismo adaptarem suas grades curriculares para este segmento também.
Conversamos com Margareth Cunha Lemos, Jornalista formada pela Universidade Federal da Bahia, 30 anos de carreira, Assessora de Imprensa da Emplasa (Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano SA). Sobre o quadro atual, ela destaca: “O jornalismo diário depende muito das pautas fornecidas pelas assessorias e das novidades exclusivas que elas oferecem. Não é fácil “cavar” matéria todo dia em meio a tanta correria. É importante deixar claro que falo de parceria, de cooperação, não de promiscuidade entre assessor e jornalista. Houve um tempo em que o assessor de imprensa era discriminado, até se dizia “assessor de imprensa não é jornalista”. Acho que o jornalista é mais apto e mais indicado para isso porque conhece o mercado, mas um RP também pode atuar na área de Comunicação, há espaço para os dois profissionais, há profissionais que podem exercer as duas funções”.
Sobre as redações, Margareth completa: “Considero a redação obrigatória na vida de qualquer jornalista. Não abro mão dessa experiência. É como uma residência médica. Na assessoria de imprensa essa experiência pode ser aproveitada, mas de forma direcionada, formatada para determinado cliente, determinado produto, determinado interesse. É o lado “frio” da coisa toda”.
Sobre a publicação da notícia hoje, a assessora afirma: “A agilidade na publicação da notícia, hoje, é uma necessidade que se impõe com mais força devido à velocidade com que se multiplicam as mídias digitais. Estamos na era da notícia em tempo real e os segundos contam, sacrificando muitas vezes, infelizmente, a apuração dos fatos. Não acho que seja meramente uma opção dos veículos de priorizar a agilidade em detrimento da averiguação dos fatos e das fontes. Vejo como uma consequência do deadline cada vez mais apertado e da pressão da concorrência entre os veículos”.
Em tom de desabafo, Margareth conclui sobre os jornalistas que migraram para as assessorias: “Não dá para generalizar. Há os que optaram por isso e os que, por falta de opção, passaram a fazer assessoria. É importante prestar atenção no mercado. Sabemos que o jornalismo diário,as revistas semanais, passam por uma crise sem precedentes. Há demissão em massa quase todos os dias. Vimos recentemente a extinção do Jornal da Tarde, da revista Bravo, entre outras da Editora Abril, o enxugamento drástico do Estadão, não faltam exemplos. Portanto, há muito jornalista sem emprego por aí, migrando para empresas de Comunicação, empresas de Propaganda, criando seus próprios sites e blogs, fazendo consultoria, marketing político, fazendo produção de eventos, escrevendo livros, virando roteiristas, escrevendo peças…”
No capítulo V do livro “A Imprensa e o Dever da Liberdade”, Eugênio Bucci concorda com a tese de que jornalista que exerce a função de assessor de imprensa deve abdicar da carreira jornalística.
É importante lembrar que se o assessor de imprensa é advogado, o jornalista é promotor público e ambos são instrumentos da mesma justiça.
Por Ana Caroline de Aquino Chaves.
Leia também:
– Jornalismo na era do release
– Assessoria de Imprensa ou de Comunicação?
– Dez dicas para escrever um press release bem-sucedido
Perfil de Ana Caroline de Aquino
Ana Caroline de Aquino Chaves, 20 anos, estudante de jornalismo (3° semestre) na FIAM FAAM, estagiária em assessoria de imprensa na Emplasa (Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano SA), apaixonada pelo jornalismo futebolístico, e claro, pela transmissão de informação com conteúdo como um todo. Para mim, o jornalismo acima de tudo é questão de preposição: Antes de falar DE fale COM.
Excelente matéria, está de parabéns!