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“O principal desafio do jornalista é se reinventar diariamente”, diz pauteiro do Agora

 “Quem não lê jornal e não exerce a prática do texto, não vai a lugar nenhum", alerta Juliano.  Foto: Vinícius Pereira.

“Quem não lê jornal e não exerce a prática do texto, não vai a lugar nenhum”, alerta Juliano. Foto: Vinícius Pereira.

Torcedor fanático da Portuguesa de Desportos, Juliano Moreira é atualmente um dos pauteiros do Jornal Agora São Paulo, pertencente ao Grupo Folha. Sua ligação com o jornalismo começou desde cedo. Quando ainda era adolescente, fazia questão de ler a coluna de esportes do jornal e anotar o que os jornalistas esportivos diziam na televisão para depois contar aos colegas.

Mas o esporte não foi a sua única paixão. Juliano também sentiu uma atração muito forte pela “sétima arte”, o que o levou a se graduar em cinema. Depois de formado, tendo dificuldade para entrar no mercado de trabalho cinematográfico, resolveu seguir os conselhos de sua noiva, retomando a faculdade de jornalismo. Sua facilidade com a escrita foi outro fator que o auxiliou a optar pela área da comunicação.

Logo no segundo semestre da faculdade, conseguiu um estágio em uma assessoria de imprensa. “A partir daí comecei a trabalhar com mais afinco o meu texto. Comecei a ler livros de jornalismo literário e outras oportunidades foram aparecendo”, afirmou. Dentre essas oportunidades estão a semana de jornalismo do Estadão, na qual sagrou-se como um dos vencedores.

O seu gosto pela política e economia o fez participar do processo seletivo da InfoMoney, site voltado para a área econômica. Ali escreveu diversas matérias relacionadas a esses assuntos e aprendeu a trabalhar sobre a pressão do horário. “Normalmente, o IBGE divulga o resultado de suas pesquisas às 9h da manhã. Eu tinha até às 9h15 para colocar a matéria no ar”, confessou.

Depois de algum tempo na InfoMoney, Juliano se candidatou ao curso de trainee do Valor Econômico, após um árduo processo seletivo, constituído por entrevistas em inglês, provas orais e escritas. Mais tarde, começou a trabalhar como freela na Folha de S.Paulo, até por fim ser contratado pelo Jornal Agora São Paulo para atuar na editoria de economia.

Pauteiro no Agora

Falando sobre o seu trabalho atual, como pauteiro no Jornal Agora, Juliano diz que a principal missão deste profissional é levar a informação que o leitor realmente precisa.

No caso do Jornal Agora, o público necessita saber fatos rotineiros, que afetem o cotidiano dele. “O Agora explora muito o didatismo, oferecendo ao leitor os ingredientes suficientes para que ele entenda tudo o que está acontecendo no país.”

Segundo Juliano, o principal desafio que vem enfrentando hoje é de encontrar assuntos quentes e se reinventar todos os dias. “Tentar achar, dentro de um assunto considerado batido, coisas novas, esse é o principal desafio para a pauta hoje”, explicou.

O papel do jornalista na sociedade

Na opinião do pauteiro do jornal Agora, o Jornalismo é uma profissão como qualquer outra. “Eu acho que as pessoas veem muito glamour onde não há. Na verdade onde existiu, talvez tenha acabado no final dos anos 80, mas de muitos anos para cá isso não existe mais.”

Apresentar ao público leitor uma notícia verídica e bem apurada é um dos papeis fundamentais do jornalista na sociedade, segundo Juliano Moreira. Devido a massificação da internet, a sociedade, prosseguiu, carece de notícias completas. Apesar disso, Juliano acredita ser importante o envolvimento dos profissionais do jornalismo com as novas mídias.

Apesar da imparcialidade completa ser um mito, “é fundamental que o jornalista entreviste quantas fontes forem necessárias para que consiga desdobrar aquele determinado assunto e abasteça de forma isenta, completa e didática o seu leitor”.

Apresentar ao público leitor uma notícia verídica e bem apurada é um dos papeis fundamentais do jornalista na sociedade, segundo Juliano Moreira. Foto: Vinicius Pereira
Apresentar ao público leitor uma notícia verídica e bem apurada é um dos papeis fundamentais do jornalista na sociedade, segundo Juliano Moreira. Foto: Vinicius Pereira

A obrigatoriedade do diploma de jornalismo

Juliano também defende a obrigatoriedade do diploma para a prática jornalística. Segundo ele, a principal diferença entre um profissional com diploma e outro sem é o faro jornalístico.

“Escrever, qualquer um sabe. Apurar e ter um faro para saber o que é mais importante, desconfiar das informações recebidas e ir até o local, sem ficar condicionado a entrevistas ou apurações pela internet, é a faculdade de jornalismo que dá”, declarou.

Qualidade que um bom jornalista deve possuir

Para ele, o estudante que quer se tornar um bom jornalista deve ser atualizado com o mundo que vive, ir atrás do que considera um aperfeiçoamento da profissão, não perder as oportunidades que aparecem, absorver o que for possível dos professores na faculdade e ler jornais e praticar a escrita.

“Quem não lê jornal e não exerce a prática do texto, não vai a lugar nenhum. Quem não presta atenção na aula, quem não lê livro, jornal, revista, qualquer coisa e que não pratica o texto, pode sair da faculdade, pois não vai conseguir absolutamente nada.”

E alerta: “hoje as redações estão ficando enxutas, não comportam profissionais aventureiros”.

O jornalista aconselha também aos estudantes à procurarem, desde cedo, estagiar na área, pois “o que a faculdade não oferece, o estágio oferece de sobra”.

Exemplos de jornalistas

Perguntado sobre em quem se espelha para exercer sua profissão, Juliano mencionou nominalmente cada um dos seus colegas de redação, afirmando que não é necessário se espelhar em pessoas que são reconhecidas na rua, que já tem uma longa carreira no jornalismo. “Eu me espelho em quem faz o jornalismo comigo, quem divide as aflições e as vitórias comigo. São pessoas que eu aprendo todos os dias com ela”.

“É muito legal você ter referências e estudar os jornalistas considerados mitos, mas é bom também se espelhar e tomar como base aquele cara que está perto de você. Porque ele está vivendo aquele jornalismo que 90% das pessoas que tiveram a capacidade de entrar em uma redação irão encontrar”, ressaltou.

Na sua opinião, o maior problema do jornalismo é a criação de mitos, pois “esses mitos levam a exacerbação do ego e da ‘glamourização’ da profissão, coisas que são prejudiciais sobretudo para os profissionais que estão começando hoje”.

Juliano Moreira é um dos pauteiros do Jornal Agora, que faz parte do grupo Folha. Foto: Vinícius Pereira
Juliano Moreira é um dos pauteiros do Jornal Agora, que faz parte do grupo Folha. Foto: Vinícius Pereira

Principal erro da Imprensa: ser incompreensível

Querer escrever tão bonito e acabar sendo incompreensível para o leitor é um dos principais erros da imprensa atual, segundo Juliano. “O leitor quer receber a informação de forma que ele entenda o que está acontecendo, que ele consiga contextualizar a vida dele com o que está acontecendo no resto do mundo.”

Ainda tratando sobre este ponto, o jornalista ressalta que não adianta querer escrever bonito para compensar a falta de informações na matéria, sendo que “é essencial você ponderar o que é a informação precisa, como escrevê-la da melhor forma possível. As pessoas querem informações completas.”

Livros que os estudantes de jornalismo devem ler

De acordo com o pauteiro do Agora, através da leitura de livros, se adquire 90% de tudo o que um estudante de jornalismo precisa ter. “Quanto mais você lê, mas qualidade literária você terá.”

Mas não é apenas de livros que um estudante necessita. É preciso ler também jornais impressos e sites de notícias variados. “Quanto mais você lê, mais você vai encontrar artifícios para enriquecer o seu texto. O livro é a bíblia do jornalista, ele tem que ser lido”, aconselhou.

O primeiro livro de jornalismo mencionado e recomendado por Juliano é “Os 10 dias que abalaram o mundo”, de John Reed, que narra o trabalho de um correspondente na união soviética durante a revolução russa. “No meu ponto de vista, esse é o principal livro de jornalismo que a pessoa tem que ler.”

Outra obra recomendada por ele é “Jornalismo Diário”, de autoria de Ana Estela de Sousa Pinto, que “abre a porta para qualquer um que se interesse pela área”.

Contudo, o jornalista alerta que “não adianta ler livros-reportagem se você nunca abriu um livro de sociologia, de ciências políticas, isso não vai mudar nada”.

Concluindo a entrevista, Juliano incentivou os estudantes a lerem livros de ciências políticas e de sociologia para “discernir o que está sendo feito na sociedade e o que que não está sendo feito” pois “jornalista sem concepção de mundo não é nada”.

Por Emílio Portugal Coutinho.

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Emílio Coutinho
Emílio Coutinho
O jornalista, professor universitário e escritor Emílio Coutinho criou a Casa dos Focas em 2012 com o objetivo de oferecer um espaço para o ensino, a reflexão, o debate e divulgação de temas ligados ao jornalismo e à comunicação em geral.
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