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Rodolpho Gamberini conta à Casa dos Focas o que o jornalismo lhe ensinou

Rodolpho Gamberini se formou em jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, e também em Ciências Sociais pela USP. Sua carreira iniciou-se em 1974, tendo trabalhado durante cinco anos no jornal Folha de S. Paulo. Após esse período foi enviado para Roma (Itália), onde foi foi correspondente internacional na Rádio Capital.

De volta ao Brasil, foi repórter especial da Rede Globo no Bom Dia Brasil. Ainda na Globo, foi correspondente nos EUA tendo depois comandado o Bom Dia São Paulo.

Da Globo, Gamberini foi para a TV Cultura, onde lançou o Roda Viva, programa semanal de debates. Logo depois, assumiu o cargo de diretor de jornalismo em São Paulo da Rede Manchete.

Retornou à Rede Globo, onde apresentou o SP Já. Na TV Cultura, foi editor do Opinião Nacional. No ano de 1999, foi contratado pela Rede Record, onde apresentou o São Paulo Notícia e se tornou âncora do Fala Brasil ao lado de Mônica Waldvogel. Em seguida, comandou o Edição de Notícias e o SP Record ao lado de Adriana Reid. Seu último trabalho na Record foi como repórter especial do Domingo Espetacular, e como apresentador aos sábados do Jornal da Record.

Em 2007 assumiu o telejornal Notícias das 6, da RedeTV!. Em novembro de 2008, foi convidado para ser o novo apresentador do RedeTV! News, no lugar de Marcelo Rezende.

Já no ano de 2009, o jornalista integrou-se ao quadro de âncoras do Jornalismo do SBT, onde fez reportagens especiais para o SBT Repórter, cobriu férias e folgas dos âncoras titulares de todos os telejornais da emissora e apresentou o bloco local do Jornal do SBT – Manhã.

No início de 2013, o SBT não renovou o contrato com Gamberini, que permanece até o momento desta entrevista sem contrato com nenhuma emissora.

Rodolpho Gamberini
Rodolpho Gamberini

Casa dos Focas – Como o jornalismo surgiu na sua vida? Você teve a influência de algum amigo ou familiar? Foi logo na infância?

Rodolpho Gamberini – Surgiu como tudo o que é importante de fato na nossa vida surge: por acaso. Eu era estudante de Ciências Sociais na USP e um amigo recomendou que eu procurasse o irmão dele na Folha de S. Paulo, para arrumar emprego. Comecei como diagramador do jornal.

Casa dos Focas – Você trabalhou em jornal impresso, rádio e televisão. Quais as principais diferenças que você encontrou nessas mídias?

Rodolpho Gamberini – Todos os processos são completamente diferentes nesses três meios.

Casa dos Focas – Qual a reportagem que mais lhe marcou?

Rodolpho Gamberini – Não sei responder a essa pergunta. Não consigo destacar uma resportagem especificamente como a mais marcante. Lembro de uma reportagem na Folha com o secretário de segurança Erasmo Dias, em plena ditadura. Prá se ter uma ideia de quem era esse brucutu, uma vez ele disse “…é claro que três negros ou mulatos dentro de um carro à noite são suspeitos!” Na reportagem que fiz, Erasmo Dias dizia a um grupo de mulheres de uma organização direitista, conservadora, que o jornalismo estava infiltrado por “comunistas” e , me apontando, disse que a Folha não publicaria uma linha do que eu escrevesse. Mas o diretor da Folha era Claudio Abramo, o melhor jornalista que conheci. No dia seguinte o jornal publicou uma página inteira às besteiras que o Erasmo Dias -apoiador da tortura, do masacre de inocentes pela polícia- disse que não sairiam no jornal.

Na TV ganhei dois prêmios Vladimir Herzog de Direitos HUmanos. Um por uma reportagem sobre o assassinato de um doente mental, com um tiro disparado com o cano do revólver dentro da boca. Quatro PMs trabalhavam ilegalmente como seguranças de uma loja no centro e levaram o doente como “suspeito” para uma salinha dentro da loja. Lá ele foi assassinado. O assassino, se me lembro bem, tinha uns 20 anos. O outro ^prêmio foi para uma reportagem sobre tortura de internos no manicômio de Santos. Os enfermeiros amarravam os pacientes na cama e os torturavam, pelo simples prazer de torturar. Era dificil distinguir quem eram os loucos.

Casa dos Focas – Qual a diferença entre o trabalho de um âncora e um mero apresentador?

Rodolpho Gamberini – O âncora é o editor do jornal, que também o apresenta. Ele tem o controle do que vai ao ar, decide como as reportagens serão editadas e depois as apresenta, fazendo ou não comentários e interpretações do que foi mostrado. O apresentador lê as notícias redigidas por outros profissionais.

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Casa dos Focas – Como foi para você lançar em 1986 o programa Roda Viva?

Rodolpho Gamberini – Lançar o Roda Viva foi uma das melhores coisas que fiz nos meus 39 anos de profissão. Roberto de Oliveira e Valdir Zwetsch perceberam o espaço que havia, naquele momento de abertura, em 86, espaço para um programa de tv que apresentasse o debate político verdadeiro a que o país estava desacostumado. Não só o debate político, mas toda a efervescência que o país vivia depois de 21 anos de ditadura.

Casa dos Focas – A jornalista Rachel Sheherazade tem sido muito criticada por dar sua opinião durante o jornal do SBT. Como você vê essa situação? As críticas tem fundamento?

Rodolpho Gamberini – Rachel Sheherazade não tem sido criticada por dar a opinião dela durante o jornal. Ela tem sido criticada por ter uma visão extremamente conservadora.

Casa dos Focas – O que o jornalismo lhe ensinou até o momento?

Rodolpho Gamberini – O jornalismo nos últimos anos deixou de ensinar alguma coisa a quem quer que seja, porque virou “ibopismo”. Pense nos telejornais de hoje? O que faz sucesso? A versão, no século XXI, do que o Gil Gomes fazia há 40 ou 50 anos… O Gil Gomes com um banho de loja.

Por que tanta matéria de polícia? Porque é isso que o telespectador sem escolas de qualidade, sem educação de qualidade, sem visão crítica do mundo em que vive, quer ver. Então, deixou-se o jornalismo de lado -detesto a palavra nicho- prá fazer reportagens que vão “pagar”, no jargão paupérrimo das redações de hoje.

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Casa dos Focas – Como você define o bom jornalismo?

Rodolpho Gamberini – Eu não defino nada. Mas conheço duas boas definições. A primeira, do Claudio Abramo: O jornalismo é a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter”. A segunda, do Millôr: “Jornalismo é de oposição. O resto é armazém de secos e molhados”.

Casa dos Focas – Como devem ser feitas as coberturas de tragédias sem se cair em um sensacionalismo barato?

Rodolpho Gamberini – Com repórteres mais bem preparados, que quando vissem uma criança ferida, não usassem chavões centenários como “..o pequeno José, de apenas 10 anos..” . Deveriam dizer “… José, de 10 anos, …..”

Casa dos Focas – Que conselho você dá para nós estudantes de jornalismo?

Rodolpho Gamberini – Ainda dá tempo de vocês procurarem coisa melhor!

Leia também: Juca Kfouri tira as dúvidas dos Focas

Por Emílio Portugal Coutinho.

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Emílio Coutinho
Emílio Coutinho
O jornalista, professor universitário e escritor Emílio Coutinho criou a Casa dos Focas em 2012 com o objetivo de oferecer um espaço para o ensino, a reflexão, o debate e divulgação de temas ligados ao jornalismo e à comunicação em geral.
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1 COMENTÁRIO

  1. Sensacional. Quando um jornalista, como Rodolpho Gamberini, diz que “ainda dá tempo de vocês procurarem coisa melhor” é sinal que precisamos analisar em qual mercado estamos prestes a entrar. São grandes os desafios de quem quer ser jornalista!

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