InícioEntrevistasUma conversa com o editor do Metrô News

Uma conversa com o editor do Metrô News

Recentemente o jornalista Paulo Manso, editor responsável pelos jornais Metrô News e Folha Metropolitana, recebeu a equipe da Casa dos Focas na redação dos periódicos, em Guarulhos, São Paulo.

Após conhecermos a redação, os repórteres, fotógrafos, diagramadores, enfim, toda a equipe do jornalismo (que, aliás, nos receberam muito bem, esbanjando simpatia e interesse pelo nosso trabalho!), fomos levados para a pequena sala onde encontrava-se Paulo Manso, concentrado na preparação do editorial do jornal para o dia seguinte.

A seriedade de quem está emitindo a opinião de tão importante veículo de comunicação, logo deu lugar à simpatia e atenção, fator que diferencia os verdadeiros profissionais, que sabem tratar bem a todos, independentemente de sua formação acadêmica ou profissional.

Na juventude, a dúvida entre o direito e o jornalismo

A primeira pergunta que fizemos foi sobre sua escolha profissional. Paulo nos contou que tinha duas opções básicas na época: direito ou jornalismo. “Direito mais por falta de outra opção, mas o que eu queria mesmo era jornalismo, muito pela minha paixão por esporte. Meu sonho sempre foi seguir jornalismo esportivo, ser repórter de campo”, afirmou.

“Na época eu cheguei a conversar com vários jornalistas consagrados, para perguntar sobre isso. Todos eles falaram basicamente a mesma coisa: que eu desse preferência exatamente para aquilo que eu me sentisse bem, pois a chance de dar certo era muito maior. Era o empurrão que eu precisava. E foi assim que escolhi a faculdade de jornalismo.”

Mais tarde, Paulo percebeu que “o glamour do esporte, não era tudo aquilo, e que a profissão é bem diferente do que a gente imagina quando é mais jovem, mas isto faz parte do aprendizado”.

Paulo Manso preparando o editorial do jornal do dia seguinte.
Paulo Manso preparando o editorial da próxima edição do jornal.

Primeiras desilusões no jornalismo

Paulo Manso confessou que logo no início de sua carreira, ficou desiludido com o jornalismo devido à posição tomada por alguns jornais no período eleitoral. Nessa época, preferiu ir para o “outro lado do balcão”, migrando para assessoria de imprensa. “Foi bom, adianta-nos, porque eu conheci outro ângulo da profissão, e me fez amadurecer e perceber que nada na vida é mil maravilhas, e o jornalismo também não é. Isso aumentou minha responsabilidade de tentar fazer diferente, de tentar mostrar que dá para fazer diferente.”

Quando ainda era estudante, começou a trabalhar na Rádio Atual AM, atendendo telefone, onde trabalhou, mesmo sem receber nenhum salário. Seu objetivo era entrar na área. Através desse trabalho, ele pôde conhecer o público-alvo para o qual a rádio se dirigia. Com o tempo ele foi evoluindo e começou a auxiliar na produção do programa, agendar entrevistas, apresentar alguns “spots” comerciais, e a fazer algumas reportagens, desta vez recebendo uma ajuda de custo.

Algum tempo depois foi para a Rádio América, onde fez a cobertura do Carnaval, sua primeira experiência em um evento grande. Ainda antes de se formar, trabalhou no portal de notícias Guarulhos Web, que tinha firmado parceria com o Jornal da Tarde de São Paulo, para fazer cobertura jornalística da cidade de Guarulhos para aquele veículo paulistano. “Imagina para você, estudante de jornalismo, ver o seu nome saindo no Jornal da Tarde, um jornal tradicional em São Paulo, todo dia praticamente! Aquilo não tinha preço, eu recebia uma merreca, mas aquilo era demais! Cheguei inclusive a dar uma manchete uma vez em uma matéria policial”.

Parte da redação dos jornais Metrô News e Folha Metropolitana
Parte da redação dos jornais Metrô News e Folha Metropolitana.

Após se formar, Paulo trabalhou em outros matutinos, e após passar por todas as editoriais possíveis, se tornou chefe de reportagem. Convidado para trabalhar como editor em um jornal diário novo, que estava sendo lançando na cidade, o Guarulhos Hoje, ficou por um ano e meio, indo depois, por quatro anos, prestar assessoria de imprensa para uma vereadora de São Paulo. Experiência adquirida, recebeu convite para ser chefe de reportagem nos jornais Metrô News e Folha Metropolitana, onde está há um ano e meio. “Eu vim porque a assessoria de imprensa é muito boa, tem uma série de vantagens, mas o que eu gosto de fazer, o que está no sangue é jornalismo.” Há um ano Paulo assumiu o cargo de editor chefe.

O jornal impresso não morrerá

Paulo Manso não acredita na morte do jornal impresso. “Eu acredito numa mudança no modo de se fazer jornal. O jornal impresso como ele é feito hoje e da forma como ele se sustenta, não conseguirá ir adiante. Isso é uma certeza.”

O jornalista recorda que a crise pela qual o impresso passa, anteriormente já atingiu outras plataformas e elas não morreram. “Quando surgiu a televisão, todo mundo dizia que o rádio iria morrer. O rádio teve que se adequar e até hoje ele presta um serviço inestimável. Existem rádios de trânsito que são mais rápidos que a internet.”

“É claro que o impresso sofrerá perdas. A publicidade que foi embora para a tecnologia, não volta mais para o impresso. Nós teremos que nos reinventar. Mas isso é algo que não é só em São Paulo, não é só no Brasil. É no mundo inteiro. Ninguém descobriu ainda o que fazer. O impresso passa pela sua maior crise, mas não pela derradeira. Ele terá que se reinventar, e ninguém sabe como fazer isso ainda. Mas vai surgir, vai surgir”, manifestou confiante.

Outro aspecto da redação.
Equipe de redação focada na apuração das notícias que serão publicadas.

O diploma não é um atestado da qualidade de um jornalista

Sua opinião sobre o diploma de jornalismo é clinicamente precisa. Ele é a favor do diploma, mas é contra a exigência dele para o exercício do jornalismo. “Esse é um assunto muito delicado, pois uma palavra mal colocada podem achar que você é contra o diploma. Eu não sou contra o diploma. Sou contra a obrigatoriedade dele para você ser contratado como jornalista. Da taxação do diploma para dizer se alguém é bom jornalista ou não. É isso que sou contra, mas sou a favor do diploma.”

Na opinião dele, o diploma em si não comprova que uma pessoa é um bom jornalista. “Eu não seria o jornalista que sou, se não tivesse passado pela faculdade. Eu tenho muito orgulho de ter diploma, mas não é ele que está confirmando se eu sou ou não um bom jornalista!.”

O atual editor do jornal Metrô News, defende que o jornalismo é uma profissão muito diferente de qualquer outra, que exige uma formação cultural ampla e uma visão de mundo diferente. “Pegando emprestada uma frase do Ricardo Gandour, diretor de redação do Estadão, ‘o jornalista é aquele que estraga o almoço da família no domingo’. Quando os parentes falam algo, iludidos com uma visão do mundo, ele fala que não é bem assim. O jornalista é o crítico, é o cara que vê diferente. Onde ele olha na rua, ele vê uma pauta. A formação do jornalista é plural, é feita o tempo todo, 24 horas por dia. E o diploma não deve ser obrigatório para ele poder exercer a profissão. Mas acho que ele tem que ter o diploma, porque o diploma também faz parte dessa visão plural que eu falei. Ele tem que estar no ambiente acadêmico aprendendo técnicas de jornalismo, aprendendo códigos de ética do jornalismo. Isso faz parte da formação do jornalista.”

Na visão de Paulo, a facilidade que existe hoje em dia para que qualquer pessoa escreva, nos dá muitas fontes de notícias, mas só se destaca quem é bom jornalista. “Tem muita coisa na internet, mas o que é bom ali? O que é feito com técnica apurada, com respeito às técnicas jornalísticas, ouvindo todos os lados envolvidos na história. É nessa hora que vai ficar mais evidente a boa formação jornalística de cada um.”

Fachada do prédio onde os jornais Metrô News e Folha Metropolitana são produzidos.
Fachada do prédio onde os jornais Metrô News e Folha Metropolitana são produzidos.

A formação dos estudantes quando chegam à redação não é a ideal

Paulo Manso alerta que muitos jornalistas chegam despreparados para o dia a dia da redação, mas a culpa não é totalmente do ensino superior. “O problema não é nem quem sai da faculdade, mas quem entra na faculdade. O problema da educação no Brasil é muito grave. Não é a faculdade de jornalismo, o problema é a base da educação. Tem gente que chega na faculdade de jornalismo sem saber português. Isso é muito grave! E se ele não sabe português na faculdade de jornalismo ele tem visão do mundo? Ele tem noção do que é a briga no calendário eleitoral? O que são os anúncios há dois anos das eleições? Qual o interesse daquilo? Por que um político estava conversando com outro? Essa visão crítica das coisas.”

Segundo ele, “o pessoal chega na faculdade muito bruto. Em quatro anos não dá tempo de sair pronto para o mercado. Por isso é importante sair um pouco antes para pegar a profissão como ela é na prática das redações, através dos estágios. O ambiente acadêmico é muito importante, mas ele não te dá noção exata de como é o jornalismo no dia a dia. Isso o foca só vai aprender quando chegar na redação, quando colocar o pé na rua”.

Paulo Manso recordou de seu tempo de foca.
Paulo Manso recordou de seu tempo de foca.

Desconfiar e ler de tudo: segredos para se tornar um bom jornalista

Concluindo sua entrevista, Paulo Manso deixou uma mensagem para estudantes de jornalismo que queiram se tornar bons jornalistas e ter sucesso na carreira: a leitura. “No jornalismo você tem que saber de tudo e você nunca vai saber de tudo, por isso você tem que sempre ler de tudo. Tudo que cair na sua mão você deve ler, sem preconceitos. Uma coisa que eu aprendi é que devo ler mesmo aquilo que não simpatizo muito, pois assim entenderei que aquilo não é tão ruim assim. E também devo ler sobre o que mais adoro, para perceber que aquilo pode não ser tão bom assim.”

Segundo ele, “o caminho do equilíbrio sempre é o melhor caminho. Podem te chamar, durante a tua carreira, de ‘em cima do muro’, mas não é. O centro é sempre melhor do que ser de direita ou de esquerda”.

Na opinião do jornalista, o primordial é sempre desconfiar de tudo e ler de tudo. “Se você não gosta de economia é justamente isso que você tem que ler. Se você não curte política, é isso que você tem que estudar. Porque você irá precisar disso alguma hora. E se você acabar caindo em uma redação pequena você se tornará repórter de tudo. Portanto, busque informação sobre todas as editorias possíveis e sempre duvide de tudo, por mais que esteja na sua cara”, concluiu.

Texto e fotos: Emílio Portugal Coutinho.

Leia também:

– A essência do jornalismo segundo Fabíola Cidral

– Dicas para se tornar um bom jornalista

– Heródoto Barbeiro é entrevistado pela Casa dos Focas

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Emílio Coutinho
Emílio Coutinho
O jornalista, professor universitário e escritor Emílio Coutinho criou a Casa dos Focas em 2012 com o objetivo de oferecer um espaço para o ensino, a reflexão, o debate e divulgação de temas ligados ao jornalismo e à comunicação em geral.
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