InícioDebate FocaO Jornalismo literário: uma alternativa interessante de atuação

O Jornalismo literário: uma alternativa interessante de atuação

O jornalismo literário mescla dois mundos aparentemente opostos: o real e o imaginário. Repórteres, em jornais ou revistas, detêm-se aos acontecimentos, ao mundo real. Ao migrar para a literatura, mesmo eles, os profissionais da notícia, partem do factual para o imaginário.

Na década de 1960, surgiu um tipo de jornalismo que tinha como objetivo fugir do lead, aquela fórmula que responde às principais perguntas para compor a abertura do texto. Com isso, deu-se lugar à subjetividade, presente na construção de grandes reportagens, com características literárias, e, muitas vezes, com um forte cunho social. Esse gênero une o texto jornalístico à literatura com a premissa de produzir reportagens completas para o leitor.

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Em 1946, foi publicada uma das primeiras reportagens com características literárias da história. Com a edição de 31 de agosto da revista The New Yorker que dedicou todas as suas páginas para publicar uma reportagem que se tornaria referência em jornalismo literário: Hiroshima, de John Hersey. Em um belíssimo texto, a vida de seis sobreviventes dos ataques atômicos na cidade japonesa, ao final da Segunda Guerra Mundial, cada relato é seguido por um breve comentário descrevendo o quão perto cada pessoa estava do epicentro da explosão.

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No Brasil,também houveram autores que se utilizaram de técnicas literárias em suas reportagens como Joel Silveira no livro A milésima segunda noite da Avenida Paulista que traz uma coletânea de textos escritos ao longo da década de 40. Nessa publicação há a descrição do casamento de Filly Matarazzo, herdeira do maior parque industrial da América Latina, com o carioca João Lage. Além de reportagens, o livro apresenta crônicas curtas e bem-humoradas sobre a vida cultural do Rio.

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E nas décadas posteriores surgiram nomes como Fernando Morais que em seu livro intitulado Olga narra a trajetória trágica de Olga Benário, recrutada pelo governo soviético para dar proteção ao líder comunista brasileiro Luís Carlos Prestes, com quem viveria um romance antes de ser presa e deportada pelo governo Vargas e morta na Alemanha nazista. E Gilberto Dimenstein com o livro Meninas da Noite que foi criado à partir de uma série de reportagens feitas entre entre 1985 e 1995, sobre a prostituição infantil, e que foram publicadas no jornal Folha de S. Paulo em 1992.

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Segundo o jornalista e escritor Audálio Dantas o livro reportagem é uma tendência. Devido aos espaços da grande mídia estarem cada vez mais fechados para reportagem e com isso jornalistas acabam se voltando para a literatura. E diante desse panorama se percebe que a afinidade que o jornalismo possui com a literatura é quase limítrofe.

Gay Talese
Gay Talese

Para ilustrar esse cenário de êxito há vários exemplos: como Gay Talese que escreveu o perfil de Frank Sinatra, intitulado Frank Sinatra está resfriado (Frank Sinatra has a cold), um texto delicioso de ler em que ele montou o perfil sem trocar uma palavra sequer com o cantor, apenas entrevistando amigos, empregados e familiares. Eliane Brum que escreveu A Vida Que Ninguém Vê obra que explora os lados da história de personagens comuns através de histórias curtas, crônicas, baseadas em “fatos reais, de pessoas comuns e situações corriqueiras”, José Hamilton Ribeiro com a obra O Gosto da Guerra, em função da reportagem sobre a Guerra do Vietnã, que fez para a revista Realidade em 1968, ocasião em que perdeu uma perna ao pisar numa mina terrestre.

O sucesso obtido por alguns jornalistas na área literária seria o fato deles contarem histórias aparentemente corriqueiras aos olhos da sociedade utilizando-se de uma linguagem figurativa como a literária visando embelezar ou até mesmo desenvolver uma maior reflexão a cerca dos fatos cotidianos.

Há um fator intrigante nessa história será que o jornalista se torna um escritor ou acontece exatamente o oposto?

A resposta para esta questão só pode ser encontrada quando há a compreensão do que se é em essência o jornalismo literário e isso só pode ser feito com a leitura de obras dessa vertente literária.

Por Luiz Fernando Prado Uchôa

Perfil do autor

Luiz Fernando Prado Uchôa é estudante do terceiro ano do curso Comunicação Social – Jornalismo na Universidade Guarulhos, desenvolve projetos de iniciação científica como as temáticas Matrix I e a Indústria Cultural e Análise da Programação Educativa no Brasil,Atua como escritor em blogs como NLUCON onde desenvolve textos nas área de sexualidade, escreve artigos de educação atualmente para o Jornal OFOCO de Nazaré paulista.

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