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Ser pauteiro é estar pronto para mudanças de rumo, garante chefe de pauta do SBT

Segundo a jornalista Mariana Alonso, não se pode ter muito  apego ao trabalhar com pauta. Foto: Arquivo pessoal
Segundo a jornalista Mariana Alonso, não se pode ter muito apego ao trabalhar com pauta. Foto: Arquivo pessoal

Nascida no interior de São Paulo, na cidade de Birigüi, Mariana Alonso optou pelo jornalismo graças a um professor de Literatura do cursinho que lhe mostrou os desafios e a importância do profissional para a sociedade. Ele não a alertou da vida sem rotina que acabaria levando, mas sua paixão pelo jornalismo lhe fez gostar até mesmo disso.

Acreditando que as cidades grandes ofereciam melhores oportunidades se mudou para a capital, onde, em 2005, cursou Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, na Universidade Metodista.

Início da carreira no jornalismo

Para entender a demanda do mercado, quando ainda estava na faculdade começou a estagiar em uma disciplina da comunicação odiada por muitos estudantes: Metodologia da Pesquisa. Foi aí que aprendeu que “a organização é um atributo importante para otimizar o trabalho e trazer resultados mais rápidos”.

Ao longo de sua carreira, como não poderia deixar de ocorrer, enfrentou diversas dificuldades. “As dificuldades técnicas, sejam relativas a um determinado software, termos técnicos e afins, foram superadas com maior velocidade, pois acredito que elas são menos complexas, mas não menos importantes. Mas o meu grande desafio foi o aprimoramento emocional.”

A jornalista teve que superar a insegurança do início, o medo de errar, a vontade de mostrar trabalho, ter “jogo de cintura”, flexibilidade, além de entender que a frustração é um grande componente de crescimento. Esses “elementos que consumiram muito o meu tempo e até hoje provocam bastante reflexão. Acho que isso é eterno em qualquer profissão”.

O trabalho diário como chefe de pauta no SBT

Atualmente Mariana atua como chefe de pauta do jornalismo do SBT. Sua rotina é a seguinte: diariamente, no início da tarde, se reúne com os editores para discutir as pautas do dia seguinte. “Neste momento, discutimos quais os assuntos relevantes para o jornal, como construiremos a pauta, quem será nossa fonte, etc. A reunião tem que ser mais objetiva, pois o relógio corre e o deadline é curto.”

Apesar do tempo restrito, nesta reunião são qualificadas as ideias, apresentados argumentos e procuradas formas criativas de cobrir temas recorrentes. “Costumo dizer que não podemos ter muito apego ao trabalhar com pauta. Às vezes você pensa na matéria de um jeito e o editor de outro. Às vezes, por conta de tempo, aquele personagem que demorou tanto para você conseguir, aparece por frações de segundos na reportagem. Faz parte do jogo, o que nem sempre agrada quem produz.”

Segundo a jornalista, “ser pauteiro é estar pronto para mudanças de rumo, o que muitas vezes faz o seu trabalho voltar à estaca ‘zero’.”

Mariana Alonso após entrevista com o maestro João Carlos Martins durante o Teleton. Foto: Arquivo Pessoal
Mariana Alonso após entrevista com o maestro João Carlos Martins durante o Teleton. Foto: Arquivo Pessoal

Reportagem no Kwait

Uma das reportagens que marcaram seus nove anos de profissão, contando com o período de estágio, foi a que realizou no Kuwait. Na época, foi enviada para tratar sobre os 20 anos da libertação do país das mãos do Iraque e entender como, depois de passadas duas décadas, os kuwaitianos estavam vivendo.

“Além da diferença da língua, havia também um abismo em relação à cultura de lá e a nossa. Mais do que entender o contexto histórico, tive que me preparar para estar de acordo com a cultura deles, ainda mais sendo mulher. Produzir uma série de reportagens em um país distante do Brasil, com rituais tão distintos e com um prazo relativamente curto foi uma experiência única”, declara.

Jornalismo: eterno aprendizado

Ao longo de sua carreira no jornalismo, Mariana Alonso aprendeu que imprevistos fazem parte desta profissão e que a agilidade é um elemento importante, mas sempre seguida de boa apuração. “Não se pode perder tempo com lamentações. Saiba que, às vezes, aquela pauta que você tanto sofreu para agendar, pode cair; o personagem pode cancelar minutos antes da gravação; enfim, são imprevistos que você tem que resolver rapidamente e isso exige uma boa agenda, raciocínio rápido, equipe alinhada.”

Na sua opinião, o bom jornalista deve ser uma pessoa informada e responsável pelo conteúdo que dissemina. Além disso, deve saber trabalhar em equipe, ter bom relacionamento com fontes e nunca se satisfazer com o conhecimento que tem.

Os estudantes de jornalismo e o mercado de trabalho

Segundo Mariana, os estudantes de jornalismo muitas vezes não chegam preparados para o mercado de trabalho, apesar de alguns apresentarem um bom nível de conhecimento técnico. “O jornalismo é muito mais do que isso. Jornalismo é comportamento, é senso de realidade. Sinto que muitos estudantes ingressam no mercado, mas são muito ansiosos e ideológicos. Ser jornalista é fazer aquilo que precisa ser feito e não somente aquilo que se quer fazer”, alerta.

Ela acredita que “os estudantes podem extravasar os limites da sala de aula, entender com profissionais já formados como é o escopo do trabalho e ir atrás do que acredita ser agregador para carreira”.

Reunida com a equipe: ao lado do correspondente internacional do SBT, Sérgio Utsch,  durante série de reportagens no Kwait. Foto: Arquivo Pessoal
Reunida com a equipe: ao lado do correspondente internacional do SBT, Sérgio Utsch, durante série de reportagens no Kwait. Foto: Arquivo Pessoal

Planos para o futuro

Após quase sete anos trabalhando em redação de TV, Mariana sentiu a necessidade de dar mais um passo na carreira. Durante uma conversa, uma amiga da faculdade propôs montarem juntas um espaço para aperfeiçoamento de estudantes, recém-formados e comunicadores de modo geral. “A ideia era conectá-los a real demanda do mercado – as vezes distante do banco de escola.”

Daí surgiu o projeto batizado como Comunik all, empresa especializada em cursos rápidos de comunicação, focados nas carências frequentemente encontradas nos estudantes.

Através de palestras, debates e workshops ministradas por profissionais com vasta experiência na área o Comunik all quer mostrar por meio de casos reais e recentes, como é possível lidar com o imprevisto, quais atitudes um profissional deve tomar diante de determinada situação e tornar o comunicador com diferencial e mais competitivo.

O projeto pode ser acompanhado através da sua página web (clique aqui).

Conselho para os estudantes de jornalismo

A jornalista aconselha os estudantes de jornalismo a serem persistentes, competitivos, manterem ativos os seus repertórios culturais e terem consciência de que existe trabalho fora do mercado clássico (TV, rádio, impresso e online), pois, há um mundo corporativo que precisa de profissionais da comunicação preparados.

De acordo com ela, o “foca” deve ir aprimorando os seus atributos, ser interessado em aprender, entregar bons resultados e estar antenado com o que acontece no seu bairro e no mundo.

A chefe de pauta do SBT recomenda também a leitura do livro “Fora do ar”, escrito pelo jornalista e apresentador Heródoto Barbeiro, pois a obra apresenta, de forma leve, os relatos dos bastidores do rádio e da TV.

Outra leitura indicada por ela é a do livro “Jornalismo Diário”, escrito por Ana Estela de Sousa Pinto. Nele o estudante terá acesso a dicas preciosas, desde cuidados ao fazer entrevista por telefone até eventuais problemas com fontes (quando a fonte pede para ler o seu texto, por exemplo).

Por Emílio Portugal Coutinho

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Emílio Coutinho
Emílio Coutinho
O jornalista, professor universitário e escritor Emílio Coutinho criou a Casa dos Focas em 2012 com o objetivo de oferecer um espaço para o ensino, a reflexão, o debate e divulgação de temas ligados ao jornalismo e à comunicação em geral.
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2 COMENTÁRIOS

  1. Excelente o texto. Repleto de reflexões essenciais para atividade profissional. Tive a impressão que estava conversando diretamente com a fonte da matéria.

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